9 de set. de 2013

WALTER ARAÚJO: CURAÇÁ, TEMPO E REMINISCÊNCIAS

O Colégio Municipal Professor Ivo Braga, de minha sanfranciscana e baiana cidade de Curaçá, agasalhava em sua turma de 1975, os seguintes alunos: Arivan Evangelista Alves, Elias Pereira Jordão, Eliene Monteiro, Elzi Monteiro Barbosa, Elzeneide Monteiro Barbosa, Suely Maciel de Souza, Tereza Cristina Gomes de Miranda, Wilson José Soares Ferreira, David José Ferreira Só, Ivonete Alves Costa, Izabel Cristina, Eliomar Monteiro da Costa, Maria de Fátima Araújo, Maridalva Nunes Guimarães, Eloísio Gomes de Miranda, João Pereira Rêgo, Alice Pereira Rêgo, Adelaide Monteiro, Regina Lúcia Xavier e também este escrevinhador.
                        Essa turma era formada de jovens espirituosos, todos dispostos a cavar um futuro de expectativas promissoras. Conseguiram, creio. Uns, acertadamente, nunca saíram do lugar, onde vivem amparados pelo aconchego familiar e dos amigos, Outros – e nestes me incluo - caíram na besteira de procurar lugares distantes e ainda hoje vivem morrendo de saudade da terra, porque, para cada um, o melhor lugar do mundo é a aldeia de cada um.
                   Tabaréu nunca esquece suas raízes. Bem por isto estou aqui falando de saudade. O sociólogo e escritor curaçaense Esmeraldo Lopes conta que “seo”Abílio, pai de minha citada colega Tereza Cristina Gomes de Miranda, saiu de Curaçá, trabalhou longe, esteve em São Paulo. Sentiu saudade, voltou. Quiseram saber quando retornaria para o sudeste. Foi filosófico: “quando eu morrer, se minha alma tiver vergonha, nunca vai andar em São Paulo”.  
                   Estou rememorando esses fatos, falando de tempo e citando meus colegas do Ivo Braga, porque, na vida, às vezes quando matamos uma cobra é preciso mostrar o pau que matou a cobra, embora hoje não seja politicamente correto matar cobras.
                   Recentemente escrevi neste mesmo espaço, reproduzido no Boletim Curaçá, um artigo sobre a demissão da secretária de Saúde de Curaçá, Maria de Fátima de Araujo Leite e um leitor observou, cético: “nunca lhe vi em Curaçá”. É possível que não tenha visto. E também possível que não verá. Mas para ter conhecimento das coisas não é preciso que andemos por aí com uma tocha em punho, para ser notado. Basta existir, mesmo que imperceptível, manemolente, insignificante. É suficiente existir, mesmo que humildemente, à semelhança de um animal noctívago qualquer.
                   Não sei se o leitor, sabiamente ambíguo, quis dizer que estou metendo o nariz onde não sou chamado ou se estou falando de um assunto que não entendo.         
                   Curaçá é assim. Mesmo que uns não vejam os outros, quem é de lá, volta sempre, voltará sempre. É bom ouvir, em suas esquinas, o ecoar da voz de José Amâncio Filho (Meu Mano do Abaré), as cantigas de Zito Torres, os passos de José Ferreira Só (Zé de Roque), as risadas de Maria de Furtunato, lembrar o chapéu branco de Antonio Carlos Duarte (KK), o olhar atento de Maria de Almeida Araujo (D. Nenzinha) e a conversa atenciosa de Themístocles Duarte Sobrinho (Mica). É bom ver o lugar crescendo e produzindo jovens antenados com o mundo. É bom extasiar-se com o seu pôr-do-sol, como se abençoando a cidade e também com o misterioso silêncio das águas do São Francisco. Silêncio que só Curaçá sabe explicar.

WALTER ARAÚJO COSTA 
advogado,escritor e jornalista.

2 comentários:

  1. Muito bom! Parabéns meu colega e amigo Walter Araújo, sempre lembrando de nossa terra com saudade e poesia. Aqui é o seu lugar, estejas onde estiver!
    Um grande abraço.
    Wellington Cordeiro Lima

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  2. sou de curaça, tenho muita vontade de lhe conhecer.

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