Existe na linguagem jornalística uma
palavra chamada lide, do inglês lead, que é o primeiro
parágrafo, a parte introdutória de uma matéria, onde devem estar implícitas,
necessariamente, as seguintes perguntas: o quê? quem? quando?
onde? como? por quê?
Existe, também, no jornalismo, outra palavra chamada fonte. É quem gera ou
passa informações à imprensa. Se a fonte pede sigilo, diz-se que está off record, significa que sua palavra é publicada,
mas seu nome não aparece; se a fonte permite que seu nome seja publicado,
diz-se que está on.
Na reportagem, ou em
qualquer matéria, esses princípios basilares da informação devem ser
rigorosamente observados, ou seja, é necessário que tudo publicado seja
verdadeiro, desde a origem até o estender-se ao conhecimento público. Por outro
lado, a fonte há de ser confiável, ter robusta credibilidade, erguer-se como
incontestável.
E aqui não se deve confundir sigilo da fonte com anonimato. A preservação da
fonte é princípio constitucional, o anonimato é covardia, pusilanimidade. Contudo,
não sei bem – ou sei demais – como se faz política em Curaçá: chafurdando na
irresponsabilidade.
Tudo isto vem a propósito de um assunto que tem circulado, amiúde, em rede
social, dando conta da existência de nepotismo e apadrinhamento na Prefeitura
de Curaçá. Parece que deriva de um folheto apócrifo ou, quando não, sem
satisfatória identificação da origem. Mas se os dados estão em conformidade com
a realidade - e parece que ninguém os contestou por enquanto - por que a pessoa
ou grupo político que colheu e tornou público tais informações não se
identifica? A identificação dá credibilidade e permite lastro para a sociedade
exigir mais transparência no uso do dinheiro público. Dizer a verdade não é
nenhuma transgressão, nem prática censurável.
Ser vigilante no que tange à administração pública municipal, não é papel
tão-somente da Câmara Municipal, tampouco de cada vereador, isoladamente. É
também desempenho de todo e qualquer cidadão, porque assim permitem as leis.
Então – e bem por isto – quem souber de falcatruas e uso indevido do dinheiro
público deve denunciar junto aos órgãos fiscalizatórios e de controle, desde
que embasado em provas irrefutáveis, inquestionáveis, incontrastáveis. Um
assunto que se diz tão sério não pode ficar apenas como conversas de comadres.
Tabaréu que sou, aprendi em minhas caatingas de Curaçá e Chorrochó que nem
sempre falar é dizer. Às vezes falamos e nada dizemos. E quando agimos assim,
nossas palavras dissipam-se ao vento, porquanto vazias, frágeis, apequenadas.
Comecei falando do lide e da fonte. Estão aí os recursos que dão amparo a quem quiser,
usando os meios legais, legítimos e democráticos, denunciar eventuais desmandos
na Prefeitura de Curaçá. Primeiro, procurar saber a origem dos fatos, se
verdadeiros, inquestionáveis, prováveis. Depois, obedecer ao princípio da
fonte, se confiável, isenta, imparcial. Preenchidos esses requisitos, ainda há
a necessidade de checar a informação, confrontar, comparar, para certificar-se
de sua veracidade. Somente depois disto, publicar, denunciar, exigir o
cumprimento e respeito à lei. Nunca enveredar pelo caminho do anonimato,
do “achismo”, da vindita e, sobretudo, da irresponsabilidade. Esse caminho é
perigosíssimo. Pode arranhar a honra alheia, pode transgredir princípios
morais, pode sufocar direitos. E isto é abominável.
WALTER ARAÚJO COSTA, curaçaense, é advogado,escritor e jornalista e colaborador do Boletim Curaçá.
As pessoas atualmente acham que podem "falar" ou "dizer" coisas que abalam a honra alheia. A era das ondas do rádio, da TV, dos jornais e, mais recentemente, da Internet com as redes sociais têm contribuído para que as informações circulem velozmente e, quando essas informações são, no mínimo, falsas o estrago já está feito para um lado ou para o outro.
ResponderExcluirAs pessoas deveriam ser cidadãs de fato e de direito, e assim agiriam corretamente, fazendo as suas considerações, ou não, a respeito dos mais diversos assuntos.
Parabéns pela postagem!