21 de mai. de 2013

ARTIGO: VIOLÊNCIA - A OBVIEDADE NÃO OBSERVADA


Por Gel Varela: O século XX foi marcado pela violência em sua dimensão geopolítica, porém,nesse início do século XXI, ou seja, nos últimos 13 anos, o acelerado conflito social parece sem precedentes na história. Dados do IBGE dizem que Estados, que no início da década ostentavam níveis moderados ou baixos para contexto nacional, apresentam crescimento severo, como Alagoas, Pará ou Bahia, que de 11º, 21º e 23º lugar passam para o 1º, 3º e 7º posto nacional, respectivamente, com crescimento que triplica ou quadriplica os quantitativos nesses 10 anos.
 
A queda do socialismo e a recente crise do capitalismo cria a identidade do ser humano caótico, que em sua busca frenética de poder, prazer e “felicidade”,passa a desconhecer o valor da plenitude e, por conseguinte, inventa a ‘Era da Incerteza’, onde tudo passa a ser duvidoso, onde os valores relativos passam a ser absolutos, mas de maneira quase sempre inobservada pela maioria.
 
Para onde vamos com tamanha desordem e confusão social globalizada?Onde queremos chegar com uma ideia de progresso que destrói as riquezas naturais ampliando a desordem e construindo caos?Essa lógica, que estabelece a relação entre produtividade e destruição crescentes, preserva a miséria em lugar da riqueza.
 
Será que a violênciaé inata ao ser humano,e por isso se expressa na sociedade? A violência no trânsito, nas escolas, na família tem tomado dimensões alarmantes.A situação parece paradoxal, pois, de um lado, pelo menos no mundo ocidental, verificamos um “avanço” da democracia e do respeito aos direitos humanos. Mas, de outro lado, tem-se a impressão de que as relações interpessoais estão mais violentas, instrumentais, pautadas num individualismo primário. Assim, como não podemos viver sem respostas morais e éticas, urge nos debruçarmos sobre esses temas. De modo geral, as pessoas estão em crise ética, e essa crise tem reflexos nos comportamentos morais. A imoralidade não deixa de ser tradução de falta de projetos, de desespero existencial ou de mediocridade dos sentidos dados à vida.
 
A concepção de vida, no chamado mundo moderno, em especial na nossa cidade, parece também estar produzindo uma anestesia moral, principalmente na classe política, pois os índices estão cada vez mais alarmantes, os investimentos na segurança pública são cada vez maiores, contudo, observamos que tais investimentos vêm sempre na perspectiva prevalecendo à razão instrumental,onde os resultados não aparecem. Isso significa que algo está errado, pois fica evidenciado que ainda não aprendemos o valor significativo das relações humanas, visto que investir em armas e aparelho de repressão tem sido a tônica.No entanto, está mais do que provado a ineficácia dessa ação desassociada de uma construção humanista e de investimentos no ser humano através da educação.
 
Pois é, acreditamos no ser humano e na educação, porquanto a educação socializa; e se há uma troca efetiva de equivalência, então, tanto indivíduos, quanto sociedade se beneficiam mais e melhor.
 
A situação humana na contemporaneidade tem se caracterizado pela dificuldade de estabelecer relações interpessoais agradáveis ou vulgarmente ditas com "sociáveis". As pessoas estão mais violentas, nervosas, ansiosas, temerosas, inseguras... e os órgãos sensoriais dos indivíduos são aguçados constantemente por essas abordagens. Com tudo isso, ascende-se um novo paradigma: o ciclo de quebra de paradigmas. Não há mais certeza do presente, ao menos de um futuro socialmente equilibrado. As teorias científicas estão sendo reformuladas e, implicitamente evidencia-se que este processo está ocorrendo com base na consciência humana.
 
Faz-se necessário contribuir com a humanidade na busca de uma melhor condição de vida, no que concerne às relações interpessoais. Desta forma,investigar teoricamente as causas da violência e as relações entre a consciência e o desenvolvimento do pensamento da não-violência no ser humano, principalmente no âmbito escolar, dando pistas que poderão auxiliar no processo educacional em prol de uma educação para a não-violência, é de grande valia para minimizar os índices alarmantes de violência que têm assolado a sociedade, principalmente nas escolas.
 
Somente um ser humano educado pela consciência dos valores e princípios da não-violência é que pode servir de pedra fundamental da harmonia social e da paz mundial. Quando a ciência, principalmente a ciência da educação, se integrar totalmente à consciência, haverá então uma grande possibilidade do mundo ter paz e ordem universal.
 
É claro e evidente que a violência é um valor característico da alma humana. Ela, a violência, não vem pelos ventos ou com a variação da maré, mas sim como resultado do grau de consciência do sujeito, portanto, queremos demonstrar que em essência o problema da violência é um problema de educação,pois quando a educação nos prepara para o dito mundo competitivo, significa que ela está nos transformando em mais um soldado para a luta, porquanto todos os nossos semelhantes são concorrentes, portanto inimigos.
 
Não dá para construir sociedade organizada sem personalidades educadas, pois os tolos e violentos já são alunos da escola, inclusive da vida, mas estão em falta quanto às aulas da paciência, persistência e inteligência, e precisamos alertá-los para os devidos fins.
 
A cidade de Salvador já tem quase três milhões de habitantes, isso significa muita pressão, tentação e provocação nas relações sociais, contribuindo e ampliando a crise da interpessoalidade.E por falta de uma concepção de projeto coletivo na esfera pública, só resta ao indivíduo agarrar-se à manutenção dos seus projetos e desejos individuais e particulares,em detrimento da compressão da existência do outro, que é parte integrante da mesma realidade, e que também tem projetos e desejos a serem realizados. Acontece que em muitos casos, um objeto de desejo não pode ser usufruído por mais de um ao mesmo tempo. Com isso, o semelhante muitas vezes passa a ser adversário no campo social.
 
A violência que se manifesta nas escolas, nas relações entre alunos, professores e comunidade, demonstra factualmente, de maneira representativa, que a sociedade está doente, pois, por exemplo, o ambiente que deveria ser tratado como ‘templo sagrado’ do conhecimento,passou a ser depósito de pessoas desprovidas, buscando segurança, satisfação e “felicidade” para a construção e manutenção da sua existência.Mas em muitos casos, sem nenhum compromisso com visão do todo que se é parte integrante, sem buscar princípios morais, éticos e estéticos elevados.
 
Assim como os raios solares penetram por entre as falhas do telhado em construção ou mal construído, a corrupção, violência e volúpia penetram numa mente em construção mal construída ou não controlada, e obscurece a alma, principalmente se ainda não estiver despertada. Na prática, é como dizia minha bisavó: farinha pouca? Meu pirão primeiro! E é nessa perspectiva que está se formando as personas dentro e fora dos muros das escolas.
 
Algo significativo precisa ser feito de maneira imperativa e categórica, afinal, o ambiente escolar não é o único espaço social em que se deve despertar,construir e/ou desenvolver a potência interior do ser humano. No entanto, em tal ambiente, pode-se compensar as influências nocivas de outros espaços sociais. Para tanto, é necessário uma tomada de decisão por parte dos governantes, diferente das medidas já existentes que ainda não deram resultados.Medidas que não sejam apenas com base em repressão, pois reprimir contém a violência e/ou conflito, mas não extingue as causas dos mesmos.
 
Qual será o destino da humanidade, em face de uma sociedade na qual a violência está se tornando um novo padrão do dia-a-dia de relações?
 
É de fato um problema que não pode mais ser negligenciado, pois a violência começa a fazer parte do imaginário social nos grandes centros urbanos, servindo de instrumento de demonstração de força e poder. Com tudo isso, ela vem interpenetrando na consciência coletiva da sociedade, nos deixando acostumados, provocando um aumento da nossa tolerância à injustiça social, favorecendo a banalização da vida e a naturalização da morte, alémde estar expandindo a ética da indiferença, promovendo a anestesia moral e consagrando a normose.
 
Tenho dito!

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