18 de set. de 2014

PROPAGANDA ELEITORAL

Qual o sentido da propaganda eleitoral nos moldes como ela ocorre hoje? Esse pensamento vem me acompanhando desde o início da atual temporada política e confesso à vocês que, cada vez mais, acho que o atual formato não faz sentido algum.
Dirigindo pela cidade vou olhando as placas de propaganda. Vejo uma sucessão de rostos e números que não me dizem absolutamente nada. Quem são estas pessoas sorridentes que nunca vi antes? De onde elas vêm, o que fazem? De vez em quando vejo alguém conhecido e logo identifico que a foto deve ser de uns vinte anos atrás….onde estão as rugas e as marcas de expressão do candidato? Será que ele emagreceu tanto assim desde a última vez que o vi? Bem, a explicação alternativa é que carregaram a mão no photoshop! Mais placas, a ruas estão tomadas por elas. Que poluição visual horrorosa!  Será que alguém efetivamente escolhe um candidato simplesmente por ver seu rosto em cada esquina? E se escolhas são feitas desta forma, o que isso representa no processo político? Quanto será que elas custam?
Na televisão a situação é ainda mais desanimadora. Chico da Padaria, Pedro de Naninha, Peteleca, Tião…cada um com seu bordão. Quanto espírito belicoso!!!! Para lutar pela segurança, pela defesa de uma educação de qualidade, na luta por um transporte público. Me lembro de já ter ouvido tudo isso antes, em outras eleições, e de não ver grandes avanços. Parece que a frouxidão toma conta desses “bravos guerreiros” depois de eleitos.
Na parte voltada para os candidatos da majoritária a situação não é melhor. Eu fiz isso! brada o candidato A que apresenta números, fotos, tabelas e rostos para apoiar sua argumentação! Mentira! retruca o candidato B, eu é que fiz e tome-lhe a mais números, tabelas, fotos e rostos! Sim, e ai? Vamos tirar no par ou impar para ver quem tem a razão? Essas produções televisivas são caras, quanto será que elas custam?
Olhando para o conjunto fico com a impressão de que a propaganda é a expressão mais clara das disfunções de nosso sistema eleitoral que transforma o candidato a representante de um coletivo/grupo/segmento social em um produto a ser escolhido não por afinidade com os representados, mas por simpatia, por beleza, por emoção, por motivos que podem ser empacotados e vendidos pela propaganda da mesma forma que você faz com um sabonete ou um detergente! Como produto o candidato deve ter um recall para que no momento da escolha ele seja a primeira lembrança na cabeça do eleitor. Seu nome deve ser massificado, para que alcance o maior número possível de eleitores. Como um produto, ele ter se vincular a slogans e imagens fortes, daí a necessidade de frases de efeito mais do que conteúdo. Como produto ele ocupa um segmento do mercado, ele não é portador de ideias ou ideais. Como produto ele é consumido no momento da eleição e depois nos esquecemos em quem votamos.
Olhando para a propaganda eleitoral e os seus custos fico com a impressão de que uma reforma política significativa deverá ter, como uma de suas consequências principais, uma mudança radical na propaganda política. A propaganda é a expressão mais pura e acabada da disfuncionalidade do sistema político. Não que ela seja simplesmente modificada. Não precisamos de mais uma lei Falcão ou de regras mais duras aqui e ali como acontece com as propagandas de cigarro! A propaganda é apenas indicador de algo que acontece antes delas. Assim, uma reforma significativa deve tornar sem sentido a propaganda como ocorre em sua forma atual. E perdendo o sentido os custos de campanha caem…

Adriano Peixoto - Publicado originalmente no Política Livre
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o site Política Livre às quintas-feiras.

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