27 de jan. de 2014

TÍTULO DE CIDADÃO CURAÇAENSE: QUEM REALMENTE MERECE ESSA HONRARIA? Por Luciano Lugori

Ultimamente a Câmara de Vereadores de Curaçá tem concedido um número relativamente grande de “Títulos de Cidadão Curaçaense”. Fico a me perguntar a quem interessa mais, ao político que fez o projeto para concessão de tal honraria ou ao dito cujo homenageado? O que Curaçá, de fato, ganha com isso? É simbólico, bem verdade, mas o título vai além de um “certificado”, pois leva consigo o gentílico da minha cidade, o adjetivo pátrio que eu e outros milhares enchem o peito de orgulho ao pronunciá-lo, ao dizer o que é. Pra ser curaçaense ou merecedor desse “privilégio” é preciso ser bem mais do que alguns “representantes do povo” conseguem enxergar.

O morador da cidade de Laguna-SC, Renato Souza, indignado com as indicações de alguns nomes disse o seguinte: “fico aqui imaginando quem deveria receber um título de cidadão honorário, pessoas notáveis, penso eu! Aquelas que conseguem fazer a diferença na cidade, que são exemplos de superação, aqueles que mesmo com tantas dificuldades tiram ‘leite de pedra’ para ajudar instituições carentes, asilos, abrigos, ou, mesmo na adversidade, conseguem se sobressair com ideias de baixo custo, mas com resultados expressivos. Um título que deve servir de orgulho para aqueles que em vida continuam lutando pelas coisas boas da terra e de referência para os mais novos que estão despertando para a longa caminhada”.

Quais são os critérios utilizados para as escolhas? O que precisa fazer/ser para se tornar um “cidadão curaçaense? Quais os verdadeiros interesses na indicação de nomes? Qual o limite de sugestões por vereador? Como a população pode participar do processo? Eu posso indicar um nome? Essas são apenas algumas perguntas que zanzam na minha cabeça e na de muitos curaçaenses.

Certo dia, numa aula sobre a História de Curaçá, um aluno manifestou interesse em fazer uma pesquisa sobre “a origem das padarias”. A ideia era fazer a partir da memória dos mais velhos, onde ainda sobrevive nosso passado, a trajetória das padarias em Curaçá. Logo vieram à tona o nome de vários padeiros, dentre eles surgiu o de Nivaldo Santos. Como um de seus filhos trabalhava na mesma escola, eu imediatamente o procurei para saber informações sobre o seu pai e para pedir uma foto do mesmo. Mas um comentário chamou minha atenção. “É verdade, todo mundo ganha o título de cidadão curaçaense, mas meu pai nunca foi reconhecido”, lamentou José Raimundo durante a nossa rápida conversa. Coincidentemente, nesse mesmo dia, a Câmara agraciava mais alguns nomes com esse título. 

Imagine quantos curaçaenses não se indagam sobre essas homenagens. Está mais que na hora, aliás já passou do tempo, de participarmos dessas escolhas, seja sugerindo nomes ou analisando aos que forem indicados pelos “nossos” vereadores. Temos a obrigação de corrigir erros, do passado e do presente, fazer justiça e creditar como “curaçaense” quem realmente merece. Ainda existem várias pessoas que estão na nossa terra há muito tempo e nunca foram lembradas. Gente que tem contribuído incessantemente na educação, na arte e na cultura da nossa querida Curaçá. É preciso cuidado, pois quando se dá um “título de cidadão”, se iguala o agraciado ao povo da terra. E será que certos nomes indicados podem ser comparados a Dona Nenzinha, Mãe Sérgia, Zito Torres, Meu Mano, Esmeraldo Lopes ou a qualquer trabalhador e cidadão curaçaense?

Texto de Luciano Lugori - via facebook

2 comentários:

  1. Parabéns Lugori! Belo texto e ótima colocação representando aquilo que pensa muitos dos curaçaenses.

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  2. O senhor Luciano Lugori sugeriu, com razão, um exame mais acurado sobre a concessão de títulos de cidadão curaçaense. O assunto merece, de fato, uma reflexão, em razão de sua amplitude.
    E por ser amplo, não estou incluindo o Poder Legislativo de Curaçá aqui, até porque não disponho de dados estatísticos para fazê-lo, mas há câmaras municipais que banalizam a concessão de títulos de cidadão. Geralmente a indicação dessa distinção honrosa parte da iniciativa de vereadores inexpressivos que se valem das prerrogativas para compensar o vácuo de sua atuação medíocre. Mas, como bem sinaliza o senhor Lugori, o título “vai além de um certificado”.
    Ser cidadão do município pressupõe não apenas folha de serviços prestados, mas uma arraigada absorção dos valores da comunidade e uma defesa intransigente do ideário dos filhos da terra. O título de cidadão é indissociável do conceito de patriotismo aplicado ao município. A idéia de que a discussão deva ser deslocada para a sociedade é interessante. Interessante e oportuna.
    Como, dizem alguns, tenho fama de meter o bedelho em assuntos da região, dou um exemplo de banalização de título de cidadão: em 2012, a Câmara Municipal de Chorrochó concedeu o título de cidadão do município ao deputado Mário Negromonte (PP-BA), ex-ministro das Cidades e pertencente ao grupo político do prefeito de então, que tinha folgada maioria no Legislativo, sob a alegação de “relevantes serviços prestados a Chorrochó”. Dizem por lá as más línguas - e as boas também - que os vereadores apenas chancelaram a vontade do prefeito.
    Salvo melhor juízo, as verbas supostamente canalizadas para Chorrochó o foram por destinação de política do governo federal e a liberação era dever de ofício daquele deputado, enquanto ministro das Cidades. E se, provenientes de emenda parlamentar, também nada mais fez do que obrigação, como representante do povo daquele município. Entender isto como “relevantes serviços prestados” é, no mínimo, falta de educação política. A Câmara de lá, neste particular, não soube exercer com altivez o seu dever.
    Valendo-me de minha condição de curaçaense, deixo claro que nada tenho contra as pessoas que já foram agraciadas com o título, certamente com méritos. A discussão aqui não se resume em ser contra ou a favor de quem recebe o título, mas sobre os critérios adotados pela Câmara para sua concessão.
    Entretanto, entendo, a exemplo do senhor Lugori, que o assunto merece ser levado à apreciação da sociedade, por uma razão muito simples: quem concede o título é o povo, através de seus representantes na Câmara Municipal. Então, ele precisa saber quais as razões que movem seus generosos vereadores a saírem, por aí, distribuindo honrarias atabalhoadamente.
    Pode até ser deselegante votar contra a concessão de título de cidadão a uma determinada pessoa. Todavia, é muito elegante um vereador cumprir seu mister com altivez e sabedoria política.

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