23 de jul. de 2013

DILMA E O PAPA FRANCISCO

Enquanto o papa Francisco, que se encontra no Brasil, tenta desarticular quem corrompe o Vaticano e inicia uma reforma que deverá ser marcante para a Igreja Católica, aqui Dilma Rousseff não consegue se rearticular para reduzir seu ministério inflacionado, arejar o seu governo e combater o exército de corruptos tupiniquins. Esta semana não será da presidente Dilma. Será, sim, do papa Francisco, o que, de largada, produzirá um benefício que merece todas as orações da presidente: o papa ocupará seu tempo voltado para a fé dos brasileiros, enquanto ela procurará resolver seus impasses políticos, especialmente com as lideranças do Congresso, notadamente com o detestável presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves.

     Só esse refresco impõe a Rousseff, como conselho, que se ajoelhe e reze 300 Ave-Marias e 400 Pai-Nossos, diariamente, enquanto o papa estiver no Brasil. As orações pelo seu governo e em agradecimento ao período em que o simpático Francisco cuidará da fé do seu rebanho brasileiro. Nesses dias de jejum político, Dilma estará distante da sua infiel base aliada. Ainda como conselho, a presidente deve, nos seus encontros com o papa, a ele pedir que reze pelo Brasil e, se não for pedir muito, por ela também, de modo que possa passar a sua tempestade política com as bênçãos do céu e voltar a crescer nas pesquisas de opinião, que poderão dificultar a sua reeleição.

     Creio e este verbo é apropriado, que os pedidos da presidente, embora com conotações políticas, não serão considerados pecados porque o próprio Papa acredita na política para a construção de um mundo melhor, sem corruptos, preconceitos e, sobretudo, com amor ao próximo. Francisco enfrenta também problemas semelhantes no Vaticano. Nem tanto, é verdade, mas com densidade, como impedir desvios nos cofres do banco da Cidade-Estado e dos pecados sexuais que enodoam uma pequena (nem tanto) parte dos clérigos da Igreja católica.

     Não existem negócios entre o Brasil e o vaticano, a não ser a fé que deveria estar muito distante de ser considerado negócio. Há muitas igrejas periféricas que a utilizam como negócio, no velho estilo de correr a sacolinha e procurar eleger grandes bancadas no Congresso Nacional.

     Quando Bento XVI esteve nesses trópicos ele tratou com Lula, dentre outras questões, um pedido de ajuda para evitar a expansão das igrejas pentecostais que, a cada dia, avançam a partir das periferias. Talvez porque existe uma carência de padres, cuja vocação sacerdotal esta em queda e dela pouco se ouve falar, nos dias atuais, especialmente de seminários para a formação de religiosos. Principalmente no interior. Isso  impede que as igrejas católicas fiquem abertas, a não ser em dias santificados especiais. Bento desejou a intervenção do governo brasileiro, mas havia uma impossibilidade intransponível, na medida em que o Estado brasileiro é laico como está na Constituição.

     Nos encontros entre a presidente e o papa, ela pedirá a Francisco apoio a projetos internacionais de combate à pobreza e à exclusão social, como iniciativas voltadas para o continente africano. O que Francisco ouvirá neste sentido nada mais é do que a Igreja ouve desde o século passado. O cuidado e o combate à pobreza sempre foi e sempre será uma proposta da Igreja Católica de grande importância, que está presente nos seus dogmas. As dificuldades, no entanto, são grandes como, recentemente, a própria Dilma ouviu do ditador do Congo, ao qual, aliás, ela concedeu a anistia de uma dívida com o Brasil superior a 300 milhões. A resposta do ditador não foi positiva, porque, bem sabe a presidente que os países do continente africanos têm organizações tribais que se guerreiam e disputam o pode de forma sangrenta. A fome e as doenças são uma constante. Os países da África foram divididos sem critérios, pelos colonizadores europeus, sem respeito às etnias, daí as dificuldades para se combater não somente a fome mas, de igual modo, as guerras.

     É claro que haverá um protocolo oficial para uma conversa entre o Papa e Rousseff. Não ficará somente no beija mão, mas sim tratar de questões que sejam viáveis. Um dia a África se entenderá, mas isso acontecerá a partir dela própria, até porque a fé no continente é dispersa, inclusive com outros cultos distantes do catolicismo.

     Desse modo, convém que Dilma procure cuidar dos seus problemas de Estado, mas só depois da visita do Papa. A direção Nacional, no final de semana, se posicionou contra a reforma política que a Câmara dos Deputados pretende realizar e, principalmente, contra um dos seus principais quadros, deputado Cândido Vacarezza, que será o coordenador do grupo encarregado da reforma. Foi desconsiderado pelo PT como tal. Isso acontece porque as dificuldades presidenciais não estão tão somente na sua base aliada, mas, de igual modo, dentro do próprio PT. Daí aconselha-se que a presidente Dilma concentre-se nos seus rosários com devoção extrema, porque se graça a ela for concedia será a ela, porque, de resto, como disse Lula a Bento XVI, o Estado é laico.
 
*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde desta terça-feira (23).

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