29 de mai. de 2012

DO COMEÇO POR ACASO, ADELMÁRIO COELHO JÁ SOMA 17 ANOS DE MUITO SUCESSO

Foto: Rafael Martins
A trilha sonora da festa junina está garantida. Pelo menos para os 130 mil leitores que compraram hoje o CORREIO.  Depois de presentear os leitores com um CD das bandas Estakazero e Cangaia de Jegue, o jornal, numa tiragem recorde, distribuiu álbum com 20 músicas de Adelmário Coelho.
Entre os sucessos gravados pelo forrozeiro, o disco traz composições como O Neném e Não Fale Mal do Meu País - música que lançou Adelmário - Amor Não Faz Mal a Ninguém, Muitos Brasis e Bahia Forró e Folia.
“Ficamos muito felizes com esta parceria com o CORREIO, que vai levar o som de Adelmário para os baianos. É mesmo um privilégio vincular o nome de um artista a uma marca de tanto prestígio”, diz William Coelho, gestor da carreira de Adelmário.
Pé-de-serra Com 18 CDs lançados, Adelmário profissionalizou-se somente em 1997, quando se aposentou como supervisor de segurança industrial numa empresa do Polo Petroquímico de Camaçari. “Quando fui morar em Salvador, com saudades do forró, frequentava o restaurante Uauá para ouvir o pé-de -serra. Eu, de vez em quando, pedia pra cantar com eles e acabei gostando do negócio”, recorda-se Adelmário, que nasceu em Barro Vermelho, distrito de Curaçá, a cerca de 600 km da capital.
Na cidade natal, Adelmário trabalhava no pequeno negócio do pai, onde vendia  de prego a remédio. “Ele era muito inteligente e tinha grande capacidade de entender o que as pessoas precisavam”. 
Além da intuição, o pai tinha, segundo o cantor, o mérito de trabalhar muito, o que permitia uma vida simples, mas digna, à família de seu José e dona Antônia. “Ele mesmo transportava a carga e carregava até rapadura no lombo do jumento. E assim conseguiu dar uma vida tranquila a mim e a minhas três irmãs”.
O São João é uma das boas lembranças que Adelmário tem de Barro Vermelho. Ele sente saudades também das noites iluminadas pela luz da fogueira ou do candeeiro, já que ali nem se falava em energia elétrica.
A seca é uma das poucas más recordações que ele guarda da infância. “A chuva era tão rara que, quando chegava, a gente tirava a camisa e ficava só de calção pra correr, festejando a chegada dela. A alegria do sertanejo com a chuva é indescritível, comparável ao que sente alguém faminto ao receber uma fatia de pão”, diz. 

Referências
Em Barro Vermelho, o cantor ouvia muito forró, principalmente no rádio. Foi assim que conheceu a sua maior referência musical, o Trio Nordestino, de quem se confessa fã da primeira formação, com Lindu, Cobrinha e Coroné.
Claro que Gonzagão também é ídolo de Adelmário, que, em seu mais recente CD, Abrindo o Baú de Luiz Gonzaga, homenageia o Rei do Baião com 17 músicas do Velho Lua. O repertório do álbum é vasto em canções pouco conhecidas do sanfoneiro pernambucano. “Poderia gravar Xote das Meninas, Numa Sala de Reboco ou Asa Branca, mas preferi  coisas diferentes para a juventude conhecer outro lado de Gonzagão. Por isso, com apoio do pesquisador Perfilino Neto, escutei cerca de 900 músicas de Luiz Gonzaga”.
Nos anos 70, Adelmário mudou-se para Salvador para servir ao Exército. “Também me formei técnico em patologia clínica e, na mesma época do Exército, comprei um Fusca que eu rodava como táxi para complementar a renda”.
Depois, já formado técnico em segurança do trabalho, deixou o Exército para trabalhar no Polo. Foi nessa época que começou a frequentar o Uauá, onde cantava despretensiosamente. “Mas os amigos começaram a me estimular para uma carreira profissional”, recorda. 

Destino
Em 94, numa viagem a Caruaru-PE, tomou coragem e bateu à porta de um estúdio pra gravar apenas uma música, Barro Vermelho e sua Realidade,  primeira composição de Adelmário. Mas o proprietário do estúdio viu potencial nele e sugeriu que gravasse um LP completo. Romildo Almeida, compositor local, ofereceu-lhe quatro canções. Mas a brincadeira foi crescendo e um LP com dez canções ficou pronto. 
Animado com o primeiro, no ano seguinte decidiu gravar um CD no mesmo estúdio. “Aí, apareceu um cidadão que me ofereceu uma música e, logo que ele começou a cantar, eu decidi gravar”. A música, Não Fale Mal do Meu País, se tornaria seu primeiro sucesso e é emblemática em sua carreira. Com o CD pronto, Adelmário saiu de Caruaru animado. Mas, passados alguns dias, recebeu uma notícia desalentadora: o caminhão que levava as 3 mil cópias até ele tombou e a carga fora saqueada.
Mas a tristeza passou logo: “Fiquei muito surpreso porque os CDs se espalharam rapidamente e chegaram às rádios do interior. Choveu ligação pedindo shows porque, como eu não tinha escritório, coloquei nos CDs o meu telefone pessoal”.
Aí, começou a aumentar a demanda pelas apresentações e Adelmário decidiu até comprar uma kombi para transportar a equipe. Na época, claro, o próprio cantor fazia as vezes de motorista. Daí em diante, ele não parou mais. Seu disco de maior sucesso foi exatamente uma homenagem aos ídolos do Trio Nordestino, em 2002. “Quis homenageá-los, mas não sabia que ia ter a repercussão que teve. Hoje, vou a muitos lugares graças àquele disco”, comemora o sempre animado Adelmário. 

Livro relaciona vida de Adelmário à cultura nordestina
Adelmário Coelho está longe de ser orgulhoso, mas, durante a entrevista, não disfarçava a vaidade  de ver sua vida registrada no livro Adelmário Coelho e a Cultura Nordestina, escrito pelo filho William Coelho e por J. Antonio Nunes Cerqueira, lançado na sexta-feira. “Eu tinha a ideia do livro adormecida em mim, mas William brotou a antecipação desse sonho”, comemora o forrozeiro.
O livro é dividido em três partes: a primeira dedica-se à cultura nordestina e às manifestações populares; a segunda destrincha letras de algumas canções que fizeram sucesso na voz de Adelmário, como Não Fale Mal do Meu País (de sua autoria) e O Neném (Cecéu), anteriormente gravada pelo Trio Nordestino; a última parte relaciona a economia do Nordeste com a cultura e as festas populares da região.
Todas as partes, claro, temperadas pela emocionante história da vida de Adelmário, que já fez muita coisa na vida: já serviu ao Exército, rodou como taxista em Salvador, trabalhou no Polo Petroquímico e tornou-se um dos cantores mais populares da Bahia, com muito carisma e uma pitada de sorte.



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