O que é
certo? O que é errado? Durante muito tempo não havia dúvidas sobre isso. Roubar
é errado, não importa a sua cor, o seu credo, a sua idade ou a sua orientação
política. Poderia até haver atenuantes, como estado de necessidade, por
exemplo, mas roubar era roubar. Hoje parece que valores perderam sua validade
e, pior, sua legitimidade.
A cada dia
se aprofunda a impressão de que o país perdeu o rumo e que nós estamos à
deriva. Não me refiro ao rumo econômico
ou mesmo político, mas ao rumo moral. As antes sólidas fronteiras entre o certo
e o errado, entre o adequado e o ridículo, parece que se dissolveram no ar como
espectros a nos assombrar.
Somos como
um paciente enfermo, não do corpo que ainda demonstra algum vigor e energia,
mas da alma que aos poucos se degenera e se transfigura. O que veríamos se o
país pudesse se olhar no espelho?
Os sinais
dessa doença da alma se apresentam em todos os âmbitos da vida cotidiana. A
esclerose social se manifesta nitidamente quando percebemos que a propaganda
política não hesita recuperar e reviver as imagens da propaganda nazista como
forma de enfrentamento do adversário que precisa se desumanizado para ser mais
violentamente combatido, e isso não nos incomoda. Parece que todo o esforço
histórico de transferir para a política (através do parlamento) parte
importante da resolução dos conflitos sociais tem sido solenemente desprezados
e o conflito entre grupos e pessoas tem sido, de fato, estimulado. Pior, não
para avanço do bem estar geral da sociedade, mas para a manutenção do poder de
grupos cujos interesses não se confundem com os da nação. E continuamos a achar
que tudo isso é natural….
Como podemos
expressar adequadamente a perda da nossa capacidade de rirmos de nós mesmos
quando damos importância excessiva às coisas que são irrelevantes sem que isso
seja visto como mais um sintoma do adoecimento de nossa sociedade? De que outra
forma podemos compreender a denúncia feita contra a nova propaganda da Bombril
ao CONAR (Conselho Nacional de Autoregulamentação Publicitária) por
discriminação de gênero e ofensa à figura masculina!?!? Besta, irreverente, ela
brinca com um jogo de palavras – as mulheres são como divas e os homens são
devagar. Ofensa aos homens é achar que devemos nos sentir ofendidos por algo
desse tipo! Ofensa grave é mais essa tentativa do politicamente correto de nos
emascular de forma definitiva.
Contra os
males da alma de um país, só um futuro comum. Contra a desagregação dos valores
da sociedade, só a resistência cotidiana àqueles que buscam nos enfraquecer.
Contra aqueles que buscam nos espoliar e se apropriar do bem público, só a resistência
da lei. Contra a intimidação, despotismo e a opressão, o ronco das ruas.
Adriano
Peixoto
Coluna:
Relações de Trabalho
Adriano de
Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração
pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da
Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de
pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA.
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