A história de Patamuté não pode ser contada,
por quem entende dela - ou lembrada, por quem gosta de lembrar, como eu - sem
que, em seu contexto, seja inserida a Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos, a antiga EBCT, muito útil na vida do lugar.
Patamuté teve o privilégio de
contar com uma agência dos correios e telégrafos durante décadas. Foi extinta
nos anos 1990, por força de uma política governamental equivocada do presidente
Fernando Collor de Melo. Depois disto a EBCT esfacelou-se, passou a ser antro e
cenário de corrupção, descambou para o desmoronamento e perdeu o título que
detinha à época de empresa pública mais eficiente do Brasil. Mas esta é outra
história. É conveniente lembrar que naquele tempo nem todos os distritos
importantes tinham repartições dos correios com status de agência.Patamuté
tinha.
A agência teve à frente a
senhora Maria Matos Lopes, casada com Otávio Lopes Martins. Na condição de
agente, ela foi responsável pelos correios de Patamuté durante anos, na
primeira metade do século XX.
Mário Matos Lopes, filho de Maria Matos,
substituiu-a também como agente, mediante concurso público. É dele que hoje me
ocupo nesta pequena e modesta lembrança de Patamuté.
É difícil, em certas
circunstâncias, falar de amigos. Difícil, porque pode parecer uma variante de
narcisismo ou mesmo um amontoado de palavras frágeis e inconseqüentes. Neste
caso não é, não precisa ser. Tenho respeito pela memória de minha terra.
Mário Matos Lopes foi meu amigo pessoal,
graças a Deus. Com ele e sua família tive a honra de conviver durante anos. A
esposa Ambrosina, hospitaleira, espirituosa, alegre e sempre atenciosa. E os
filhos: Antonio Nilo Ferreira Lopes; Solange Matos, minha comadre, que foi
casada com meu padrinho Osmário Matos Torres; e Odete Matos.
Homem de opinião e caráter
irrepreensível, Mário Lopes era cuidadoso no exercício da
profissão, pontualíssimo relativamente aos compromissos e dedicado aos amigos.
Uma referência quando, em Patamuté, falava-se em honestidade, decência e
sensatez.
A vida de Mário Lopes confunde-se
com exemplo de honradez e seriedade. Também violonista, às vezes boêmio, outras
vezes comedido ao extremo, era admirador de José Amâncio Filho, “Meu Mano”.
Conhecia todas as músicas de “Meu Mano” e tinha predileção por “Lágrimas de
Mãe”, que cantava com esmero admirável.
Os homens de opinião às vezes
criam lendas, porque o mistério faz parte da construção dos mitos. Mário
Lopes não abdicava de seus valores morais e sociais e, em razão disto,
deixou exemplos.
Já morando em São Paulo, fui
a Patamuté. Visitei-o, como de costume. Contou-me que teve um desentendimento
com um amigo de boemia no conhecido bar de Taxú. “Em Patamuté não bebo mais. Só
coloco um copo na boca depois de passar o Paredão”. Cumpriu a palavra até a
morrer.
Paredão, para quem não
conhece, é um riacho que existe em Patamuté. Mário Lopes fez
esta façanha de criar uma linha divisória entre o Paredão e o cumprimento de
sua palavra.
Patamuté, como todo lugar,
tem seus filhos e sua história de vida.
WALTER ARAÚJO COSTA
advogado,escritor e jornalista.
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