21 de mar. de 2013

JOSÉ AMÂNCIO FILHO (“MEU MANO”) E O LUAR


O luar tem muitas nuances. Até permite o surgimento de clássicos como a música Luar do Sertão, do maranhense Catulo da Paixão Cearense, que um colega meu dos tempos da faculdade insistia em dizer que era cearense. Nunca consegui convencê-lo de que Catulo era natural do Maranhão. Composta em 1914, no próximo ano a música fará cem anos e ainda hoje continua sendo cantada por jovens e velhos.

Aliás, em minha baiana cidade – Curaçá – havia um bar no chamado centro histórico, onde se lia no frontispício, talhadas com esmero, as palavras Luar do Sertão. Não sei se ainda estão lá o bar e as letras. Se não continuam lá, é porque extirparam um pouco da história do município, coisa comum nos dias de hoje, em qualquer lugar.

O luar sempre foi inspirador das serestas, do amor desejado e da vida noturna no interior. Até as casas de chá nele se inspiravam para romantizar seus ambientes. Lembro um baile intitulado uma casa de chá ao luar de outubro, para o qual fui convidado na década de 1970, numa cidade do interior da Bahia. Como sempre me interessei em saber a origem das coisas, achei aquilo muito interessante: o luar era de outubro, mas o baile foi em dezembro.

O cantor e compositor José Amâncio Filho (“Meu Mano”), que era curaçaense, mas se notabilizou em Abaré, inspirava-se no luar para compor suas canções. Nascido na Fazenda Malhada de Pedra, em 1894, quando Abaré ainda pertencia ao município de Capim Grosso, hoje Curaçá, cresceu vendo o luar do sertão.
Quando eu morava em Patamuté, um amigo de “Meu Mano” contou um “causo” curioso. Ambos estavam numa bodega, à boca da noite, já à luz do candeeiro, em tempo de lua cheia e o amigo lhe convidou para beber alguma coisa. “Meu Mano” ponderou: “certo, mas vamos esperar a lua sair”. O escritor pernambucano Geraldo Granja Falcão escreveu sobre ele, dentre outras coisas, que “tinha uma vida boêmia, nômade, comunicativa, movimentadora de tantos pedaços de sertões e de gente, fiel às melhores tradições culturais da região”. E ainda fez história que enriqueceu Curaçá, Abaré e região.

WALTER ARAÚJO COSTA 
advogado,escritor e jornalista.


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