12 de jun. de 2013

WALTER ARAÚJO: FRAGMENTOS DO COTIDIANO

Bahia, segunda metade da década de 1970. Li pela primeira vez o poema abaixo, de Odair José, num momento de solidão, fragilidade e dúvida. 

Eu estava na Fazenda Estreito, nas caatingas curaçaenses de Patamuté, divisa com Chorrochó e o anotei num humilde caderno, companheiro e amigo naqueles dias difíceis. Quadra de minha vida um tanto voltada para a introspecção. Quando a cidade não me dava o amparo, procurava o aconchego de minha mãe na caatinga. E passava com ela dias e dias adquirindo forças, balizando o horizonte, acomodando o turbilhão de inseguranças e conversando com o silêncio.
   
Releio-o até hoje.  Às vezes, quando nos faltam os amigos, as palavras nos confortam e servem de ombro para o derramar das lágrimas. Eu passava por isto, muitas vezes passei por isto.   
Ainda muito jovem e cheio de sonhos, era muito difícil optar entre a humilde casa de taipa onde nasci encravada naquele sertão seco do meu querido semi-árido nordestino e a mudança para outro lugar desconhecido e distante, que me permitisse construir o caminho para a realização de meus sonhos. Nunca esqueci esse momento de reflexão em minha vida: a casa, que pedia pra ficar e a nova estrada, pedindo para seguir. Certamente a melhor decisão era seguir o caminho, mas sem abdicar das raízes. Lá estão as forças para o prosseguimento da caminhada, para o afastar das pedras, para o soerguimento após os tropeços. Fiz assim, mas foi uma barra, tem sido uma barra, porque a saudade quase sempre dilacera, cutuca, atormenta.

Com o tempo fui afastando as dúvidas e tapetando a estrada com a coragem possível e as decisões necessárias, segurando as lágrimas e, às vezes, derramando-as, quando não dava para segurar. Mas segui em frente. Se havia outro caminho melhor não sei, não consegui enxergar, mas sei que não me arrependo do caminho que escolhi.

 O poema de Odair José é este:

“Apareceu uma nova estrada e disse:
- Siga-me, pois eu sou o seu futuro.
E minha casa, com medo da solidão, me pede pra ficar, dizendo ser ela o meu passado.
E eu pensei, pensei, pensei...
Pra que futuro, pra que passado, quando na verdade ando perdido nos meus momentos presentes”.   

Creio ser uma forma de seguir adiante. Mas é inegável que o passado nos serve de sustentáculo para consultar o presente e enfrentar o futuro. E como é difícil esse equilíbrio! 

WALTER ARAÚJO COSTA, curaçaense, é advogado,escritor e jornalista. Colaborador do Boletim Curaçá.
  

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