Vivi anteontem, dia 23/02/2013, uma fato que me deixou indignada, uma
atitude de desrespeito, ignorância e má preparação profissional dos
funcionários e da equipe do supermercado Hiper Bompreço, localizado no
River Shopping. A pessoa ofendida não fui eu, mas a natureza do problema
e a minha interação com o ocorrido não me permitem ficar calada diante
desse absurdo.
Estava com minha filha anteontem e realizamos uma compra de alguns
itens de alimentação e limpeza para nossa residência, enquanto
aguardávamos na fila, fomos abordadas por um jovem de aparência humilde
com aproximadamente 15 anos, que com educação descrição e um certo
receio, me pediu que lhe comprasse um pacote de feijão.
Isso mesmo, um simples pacote de feijão, não me pediu dinheiro, não me
pediu futilidades, não fez apelos, nem veio com frases prontas
apelativas, apenas pediu um pacote de feijão, disse, inclusive, que iria
buscar para que eu não tivesse que deixar a fila. Eu o encarei por
alguns instantes e enxerguei fome, desespero, medo, humildade, enxerguei
uma pessoa vítima de uma sociedade que no auge de sua ausência de
perspectiva recorreu a um estranho para lhe prover o que um sistema
público eficiente deveria assegurar a todos.
Eu concordei e ele agiu prontamente, foi até o corredor, buscou o
feijão e retornou rapidamente, nem sequer escolheu um dos tipos mais
caros ou de marcas mais consagradas, pegou um modelo simples,
tradicional, tipo aquele que nossa mãe manda comprar quando não temos
muito dinheiro, sei porque passei por isso na minha infância.
Foi o primeiro item a passar na minha lista, como demonstra o
comprovante que demonstro acima. Tão logo foi feito o registro a
empacotadora colocou o produto numa sacola e o entregou ao garoto.
Quando encerrou-se o registro das minhas compras, às 15h32min, realizei
o pagamento, e enquanto terminávamos o empacotamento vi a moça que me
auxiliava no caixa interceder numa situação um pouco distante dizendo
“não façam isso, foi a moça aqui que pagou o feijão dele”, prontamente
me atentei para o ocorrido e então percebi o absurdo: quando tentava
sair do supermercado, pelo corredor de caixas, com o item na sacola, o
segurança lhe tomou o produto, mandou que uma funcionária devolvesse à
prateleira e o tangiam como quem tenta afastar um bicho ameaçador. Uma
senhora que estava na minha frente na fila do caixa tentava explicar o
ocorrido, mas não era ouvida pelos funcionários grosseiros e
intolerantes. Enquanto isso o pobre garoto se silenciava diante do
constrangimento, acuado num canto sem saber o que fazer ou para onde ir.
Dei de encontro com a funcionária que retornava com o feijão e imediatamente ORDENEI,
sim ordenei aos gritos, que a mesma retornasse imediatamente e
devolvesse o produto ao rapaz, pois eu havia realizado o pagamento.
E assim começou a confusão e a sucessão de absurdos que só pioraram a
situação. A moça devolveu o produto ao rapaz e o mesmo rapidamente se
foi sem que percebêssemos ou que um pedido adequado de desculpas lhe
fosse ofertado.
O segurança informou que a medida fora tomada porque ele estava sem o
recibo, porque estava importunando os demais clientes e porque estava
andando pela loja com produtos na mão há algum tempo com aparência
suspeita.
Ora, nada disso justifica a conduta, primeiramente, não encontraram
nada escondido no rapaz, quanto ao recibo, não lhe deram a chance de
explicar que eu havia pago, não procuraram explicações e nem me
questionaram, antes de tomar medidas mais radicais. Ora, o produto
estava em uma sacola e o garoto saia do corredor de caixas, tudo isso
são indícios de que o pagamento havia sido realizado, por quem quer que
fosse, mas nada disso foi levado à conta. O interessante é que frequento
aquele estabelecimento há anos e nunca me pediram para verificar um
produto sequer, nunca tive minha nota solicitada, nunca, assim como
muitos outros acredito eu.
Outro funcionário logo se aproximou ao ver a confusão e informou que
esse era o procedimento padrão, mas que padrão esse para se adotar!?!
Então com meu carrinho cheio de mercadorias sugeri que, em cumprimento
ao procedimento padrão, o mesmo verificasse item por item na nota se eu
também não estaria subtraindo nada, pois saí do mesmo corredor que o
garoto sem apresentar recibo, mas o mesmo informou que isso não seria
preciso pois eu “era diferente”.
“Diferente”, um conceito meio complexo, já que acredito que sejamos
todos diferentes, mas a minha falta de ingenuidade me fez concluir
exatamente o que ele quis dizer, então solicitei que explicasse
claramente, mas adverti-lo de que isso era discriminação, preconceito e
até mesmo crime, acredito eu. Então ele ficou sem palavras, não soube
mais o que dizer, não tinha mais o que dizer, enquanto nós, que demos
uma voz àquele menino, esbravejávamos indignadas e um público já
bastante grande, atento ao que era dito, questionava.
Aumentando a bola de neve que a situação se tornou me disseram que se
eu desejasse fazer isso novamente deveria entregar a mercadoria fora do
supermercado. Cada vez mais revoltada informei que o que faço com minhas
mercadorias não era problema de nenhum deles, se quisesse eu poderia
simplesmente derramar tudo ali, largado, e ir embora, porque
diferentemente daquele menino, eu pude pagar por aquelas compras, e
depois que passei daquele caixa tudo era meu, não sendo mais da conta de
nenhum deles o que faço com meus produtos ou a quem entrego cada um
deles, nem dentro, nem fora do supermercado.
Em mais uma tentativa frustrada de justificação me disseram que eu não
estava ajudando o rapaz, pois ele provavelmente venderia o feijão para
comprar drogas, acreditem, sim, me disseram isso, ali, descaradamente,
na frente de todo mundo. Os profissionais supostamente sérios e
preparados para assegurar a segurança do estabelecimento, para lidar com
consumidores, para solucionar crises em um estabelecimento comercial de
grande porte, é triste, mas eles fizeram isso.
Gente estúpida, mal preparada, de mente fechada, preconceituosos,
julgando por estereótipos, taxam o rapaz de bandido, tomaram-lhe o
produto. Eles sim é que me perturbam e me incomodam, não aquele menino
que precisava de ajuda, que pediu ajuda, se bem que eles também precisam
de ajuda, precisam urgentemente aprender como se trata uma pessoa com
respeito, porque todos merecem respeito, TODOS!!!
Seguranças, supervisores, responsáveis pela administração, todos
tentado justificar o injustificável. Mas a explicação é simples:
discriminaram, taxaram, suspeitaram, acusaram e condenaram o rapaz sem
uma chance de explicações ou defesa.
Não porque o mesmo tenha agido errado, não porque estivesse sem o
recibo, mas porque era simples, humilde, estava mal vestido, um tanto
quanto sujo, pedindo ajuda, estava receoso de ser expulso, se esquivando
e depois de tantos nãos, procurava um ser humano que lhe ofertasse um
pouco de solidariedade, mas acreditaram que ele não poderia ter pago um
pacote de feijão que custou R$ 4,56 (quatro reais e cinquenta e seis centavos),
e antes de apurar o ocorrido com responsabilidade, foram totalitários e
intolerantes, todo esse absurdo por causa de um produto desse valor!
Esse estabelecimento e esses funcionários incompetentes que não souberam
lidar com a situação são uma vergonha para nossa comunidade, ou até
mesmo para toda a raça humana.
ROZANI ALVES COSTA
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