27 de set. de 2011

CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO É DIVULGADA PELAS ONDAS DO RÁDIO

A presença do rádio na região do São Francisco data por volta dos anos de 1950, e até hoje “supera a televisão e todos os meios de comunicação”, conforme a opinião de Gilberto Cardoso, de 33 anos, que todos os domingos sai de sua propriedade, a 13 km da sede de Curaçá – BA, para apresentar o programa “A voz do homem do campo”, na Rádio Comunitária Curaçá FM.

O programa, produzido e apresentado ao vivo por Gilberto das 8h às 9h tem o objetivo de veicular informações de interesse dos produtores e produtoras rurais, dicas que auxiliam no manejo do rebanho, na produção agrícola, no cuidado com a caatinga, além de músicas e poesias que, segundo colaborador da rádio, falam da região, do modo de vida sertanejo e fazem as pessoas refletirem.

Gilberto, que mora com a esposa e dois dos quatro filhos no Sítio Mirante, área rural de Curaçá, faz questão de destacar sua atividade diária como produtor rural e vaqueiro, e diz que apesar do nome, o programa é voltado também para a mulher e para os meninos e meninas que vivem no campo e não deixam de ser protagonistas das atividades comuns à rotina da vida rural, tal como acontece em sua propriedade. “Eu sou a voz de Seu Manel em Caxaqui, de Toinho em Mundo Novo, de meu avô que já faleceu”, acredita o jovem produtor que recebe em média trinta ligações durante seu programa. Para ele, isso é reflexo de uma comunicação que fala do povo e para o povo, através de uma linguagem popular e da divulgação da proposta de Convivência com o Semiárido, algo que defende como necessário para manutenção das famílias no campo e para qualidade de vida das mesmas.

Sérgio Avilez, também locutor da Curaçá FM e ouvinte assíduo do programa, não cansa de elogiar o trabalho do colega e confirma que “A voz do homem do campo é um programa didático. Nasci na capital, mas aprendi muito sobre o campo com o programa do Gilberto”, relata. Não faltam elogios também na casa de Dona Maria Alice, de 80 anos, moradora da comunidade de Primavera, a poucos quilômetros do sítio de Gilberto. “Quando chega a hora do programa, a gente pode até tá tomando café e pára pra escutar”, conta entusiasmada D. Maria, que ao lado do irmão Antônio Freire, o “Guilé”, se diverte ouvindo seu radinho e sabendo as notícias do mundo como ela mesma diz. “Ele incentiva os produtores, ensina a desenvolver o trabalho no campo”, diz Seu Guilé.

Em casa, a prática da Convivência com o Semiárido

Depois de já ter morado em estados como São Paulo e Goiás e de ter um currículo cheio de experiências que vão desde auxiliar de escritório, pintor de paredes, agente de projetos ambientais, até trabalho voluntário com grupo de teatro e comunidade quilombola, Gilberto diz amar o pedaço de terra onde mora e afirma que uma de suas maiores felicidades é chegar em casa a noite e ouvir os filhos lendo uma cartilha. Ele que estudou até o ensino médio, faz o possível para garantir a formação dos herdeiros Gustavo, Glauco, Filipe e Gilberto Junior.

Procurado pelos vizinhos para auxiliar no controle de doenças dos animais, dicas para melhorias das propriedades e práticas de campo, Gilberto sempre compartilha o que aprende e diz já ter participado de 50 cursos voltados para caprinovinocultura. No trabalho em família, enquanto a esposa Rejane vai para a roça as crianças estão na escola e os pequenos também ajudam nas tarefas cotidianas do sítio. E é o cuidado com os caprinos, galinhas, suínos e o carinho com os animais domésticos que fazem Gilberto ter a certeza de que o Semiárido é viável e que o ambiente precisa ser preservado. Um de seus sonhos é ver uma produção sem adubos químicos na margem do rio, por isso, em seu programa incentiva a produção orgânica, a caprinovinocultura, a importância de políticas que garantam isso aos produtores. “Uso o rádio como uma forma de fomentar essa discussão entre as pessoas”, revela.

Tanto em sua propriedade quanto no programa de rádio, Gilberto diz colocar em prática o que aprendeu com a vida e com as experiências de trabalho que já teve. Entidades como o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA, Secretarias municipais que trabalham com a temática, EBDA, entre outras, também são consideradas como importantes parcerias e fontes de informação para “A voz do homem do campo”.
Iniciativas como a de Gilberto Cardoso – que há oito meses faz a alegria de muitos ouvintes da Curaçá FM – ajudam a difundir experiências importantes que asseguram a viabilidade da Convivência com o Semiárido e a possibilidade de uma comunicação democrática, voltada para os reais anseios da população.


Matéria: Site Observatório Direto à Comunicação

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