25 de jun. de 2012

WALTER ARAÚJO: UMA RUA DE PATAMUTÉ

Em minha mocidade existia uma rua em Patamuté, a dos Ferreiros. Ainda há. Uma rua nascida da tradição do povo, sem alcunha oficial atribuída pelo poder público. Pequena, fazendo limite, ao fundo, com as pedras disformes do mármore de Patamuté sobre as quais pastavam os animais.
Uns dizem ser rua dos Ferreiras, alusão ao nome de uma família; outros, rua dos Ferreiros porque ali, contam, artesãos exerciam a profissão de cunhar ferro a fogo, aquecido através de fole, uma geringonça que, acionada manualmente, alimentava com ar as brasas para o ferro amolecer e ser moldado. Daí, Ferreiros. Mas isto é assunto para a história e não para reminiscências.
Reuníamos ali, às vezes, jovens e velhos.
Na década de 1960, quando lá só existiam vitrolas movidas a pilha, porque em Patamuté não tinha energia elétrica, ouvíamos, entre outros cantores, Gigliola Cinqüetti cantar “Dio come ti amo”, que embalava nossos sonhos de jovens e tapetava a coragem para conquistar as primeiras namoradas. Ali mesmo em qualquer casa cedida por um morador generoso, fazíamos bailes, chamados de “assustados”.
Naquele tempo construí minhas primeiras amizades, muitas delas reluto, até hoje, em perdê-las. São amigos que perduram, ultrapassaram décadas e se firmaram na sinceridade. E quando é assim, difícil acabar.
Sempre me perguntam quais são meus amigos, se os tenho, se existem ou se diluíram no tempo e nos lugares por onde passei e morei, que são muitos, vários. Também. Mas em alguns desses lugares permanecem amigos ainda firmes. Em Patamuté, inclusive. Esses ficaram, certamente. Coisas da juventude. Difícil de explicar.
Todavia, muitos amigos surgiram bem depois, quando eu não vivia mais lá e não mais encontrava dificuldades na vida. E os grandes amigos são aqueles que aparecem nos momentos mais difíceis. Como dizia Walter Winchell, “amigo é aquele que chega quando as outras pessoas estão indo embora”.
Minha formação de vida deu-se numa atmosfera de muitos percalços. Tropecei, algumas vezes. Caí, outras tantas. Mas levantei-me. E toda vez que me encontro na encruzilhada do tempo passado e do presente, lembro das amizades adquiridas ao longo do caminho. E faço um balanço: valeu a pena tê-las

WALTER ARAÚJO COSTA 
advogado,escritor e jornalista.
 

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