8 de jun. de 2012

CURAÇÁ: DE LEMBRANÇAS E BOEMIAS

Curaçá é um município encravado no sertão da Bahia. A sede, constituída de casas baixas, debruça-se à margem direita do São Francisco e ostenta uma beleza encantadora por conta das paisagens e tradições nascidas em torno do rio.
Cidade antiga e admirada por seus filhos, aos quais me incluo, Curaçá traduz um clima cultural que seus antepassados foram sedimentando e perenizando ao longo dos anos.
Como toda cidade que se preza, Curaçá também teve seus boêmios, como os tem até hoje. Um deles, José Amâncio Filho (Meu Mano), nascido ao apagar das luzes do século XIX, suas músicas ainda freqüentam os bares curaçaenses. Outro, mais contemporâneo, era Zito Torres. Boêmio inteligente e incorrigível. Já escrevi noutra ocasião, em algum lugar, que Zito merece um monumento à cordialidade. Era gentil, humilde, atencioso, amigo, cordial.
Também lá vivi parte de minha fase de jovem. E de boêmio, nas horas vagas. E vêm as lembranças que invadem os dias e me trazem a saudade do romantismo daquele tempo, diverso das vicissitudes de hoje. O mundo daquela juventude era a própria juventude. E a única droga possível era a bebida alcoólica vigiada pelos pais que nos repreendiam. O parâmetro que balizava a nossa mocidade era o respeito aos mais velhos e o desejo de ser correto perante a sociedade. Os sonhos eram claros, claríssimos: crescer intelectualmente para a vida.
Guardo nas páginas da lembrança alguns amigos daquele tempo. São tantos! Um deles, Wilson José Ferreira Soares. Muito jovem, lembro-o cantando “Último desejo”, de Noel Rosa e “Como vai você”, música de Antonio Marcos gravada por Roberto Carlos. Eu o admirava pela obediência que devotava aos seus pais, José Ferreira Só (Zé de Roque) e D. Elita Soares. Ambos constituíram uma das famílias mais admiráveis de Curaçá. Zé de Roque era simpático, solícito, carismático.
O tempo passou. Passaram décadas. Outro dia estive em Curaçá e vi, intacta, a boemia em suas calçadas, nos bares por onde andei e, sobretudo, na firmeza de sua cultura.

WALTER ARAÚJO COSTA
advogado,escritor e jornalista.

2 comentários:

  1. Parabéns Walter, fala com coração coisas da nossa querida Curaçá.

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  2. Beleza Walter! Sem dúvida, você tem Curaçá no interior do seu saudoso coração. O melhor é que você também se preocupa com o momento hodierno. Isso só demonstra que você é um curaçaense de todos os tempos. Um abração!

    Maurízio Bim
    pedagogo e jornalista

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