Curaçá
é um município encravado no sertão da Bahia. A sede, constituída de
casas baixas, debruça-se à margem direita do São Francisco e ostenta uma
beleza encantadora por conta das paisagens e tradições nascidas em
torno do rio.
Cidade
antiga e admirada por seus filhos, aos quais me incluo, Curaçá traduz
um clima cultural que seus antepassados foram sedimentando e perenizando
ao longo dos anos.
Como
toda cidade que se preza, Curaçá também teve seus boêmios, como os tem
até hoje. Um deles, José Amâncio Filho (Meu Mano), nascido ao apagar das
luzes do século XIX, suas músicas ainda freqüentam os bares
curaçaenses. Outro, mais contemporâneo, era Zito Torres. Boêmio
inteligente e incorrigível. Já escrevi noutra ocasião, em algum lugar,
que Zito merece um monumento à cordialidade. Era gentil, humilde,
atencioso, amigo, cordial.
Também lá vivi parte de minha fase de jovem. E
de boêmio, nas horas vagas. E vêm as lembranças que invadem os dias e
me trazem a saudade do romantismo daquele tempo, diverso das
vicissitudes de hoje. O mundo daquela juventude era a própria juventude.
E a única droga possível era a bebida alcoólica vigiada pelos pais que
nos repreendiam. O parâmetro que balizava a nossa mocidade era o
respeito aos mais velhos e o desejo de ser correto perante a sociedade.
Os sonhos eram claros, claríssimos: crescer intelectualmente para a
vida.
Guardo
nas páginas da lembrança alguns amigos daquele tempo. São tantos! Um
deles, Wilson José Ferreira Soares. Muito jovem, lembro-o cantando
“Último desejo”, de Noel Rosa e “Como vai você”, música de Antonio
Marcos gravada por Roberto Carlos. Eu o admirava pela obediência que
devotava aos seus pais, José Ferreira Só (Zé de Roque) e D. Elita
Soares. Ambos constituíram uma das famílias mais admiráveis de Curaçá.
Zé de Roque era simpático, solícito, carismático.
O
tempo passou. Passaram décadas. Outro dia estive em Curaçá e vi,
intacta, a boemia em suas calçadas, nos bares por onde andei e,
sobretudo, na firmeza de sua cultura.WALTER ARAÚJO COSTA
advogado,escritor e jornalista.
Parabéns Walter, fala com coração coisas da nossa querida Curaçá.
ResponderExcluirBeleza Walter! Sem dúvida, você tem Curaçá no interior do seu saudoso coração. O melhor é que você também se preocupa com o momento hodierno. Isso só demonstra que você é um curaçaense de todos os tempos. Um abração!
ResponderExcluirMaurízio Bim
pedagogo e jornalista