17 de dez. de 2013

WALTER ARAÚJO: "A AMIZADE E O CAMINHAR"

Quando éramos jovens, tínhamos sonhos. Quando mais velhos, refletimos sobre eles, uns realizados, outros não.

É bom acreditar nas convicções. Elas balizam o caminho. É bom ter um ideal para sustentar as fragilidades. Ele ameniza as dificuldades e ilumina os horizontes.

A compreensão de nosso mundo depende, basicamente, da forma como vemos os outros, com seus defeitos, qualidades e fraquezas. É uma tarefa difícil que nos obriga a descer do pedestal.

É bom atapetar o caminho com a humildade. Ela nos dá o prumo do caminhar, o parâmetro entre a reflexão e o equilíbrio, permite diferençar o outro de nós mesmos e entender a inutilidade da arrogância.

Em minha juventude, sonhos, convicções e ideais andavam juntos. Mas, por vezes, a arrogância se fez presente, talvez por ser um atributo daquela fase da vida. Contudo, construí amizades que suportavam meus defeitos e compreendiam meu modo de ser. Como sou grato a todas elas!

Quando morei em Chorrochó, ainda jovem, tive a honra de conviver com Maria Batista Rodrigues, que ainda não tinha Souza no nome. Naquele tempo, já professora, ela trabalhava no único posto de saúde que existia lá, o Posto Médico Francisco Pacheco. Ficamos amigos e o tempo permitiu a continuidade da amizade até hoje.

Maria diluiu muitas das fragilidades que eu ostentava. Ensinou-me a aparar as arestas de minha arrogância, compreendeu meus sonhos e convicções e me fez ver a importância e seriedade dos estudos. Aprendi com ela a definir o caminho em direção ao desconhecido. Caminho difícil, mas necessário. Era preciso seguir adiante.

Há uma fase da vida que, ao caminhar, surge uma encruzilhada. É nesse momento que, diante da indecisão, a opinião amiga faz-se necessária. Em Chorrochó, comigo foi assim.

Anos mais tarde, Maria Batista esteve morando em São Paulo. Visitei-a duas vezes, se tanto. Ambos deslocados do habitat natural, o sertão, parece que a cidade grande nos empurrava de volta para nossas raízes. Eu fiquei, Maria voltou, acertadamente. Foi acomodar suas emoções e sabedoria em Patamuté. Casou, constituiu família bonita e exemplar e por lá está enriquecendo o lugar com sua presença. A presença de Maria é um privilégio de Patamuté, que às vezes o divide com Juazeiro e Curaçá.

Maria Batista é generosa, sábia, correta, humilde, sensata, atenciosa com todos e prestativa demais com as pessoas que gosta. O convívio que tive com ela me dá saudade, uma saudade persistente, itinerante, inominável, cruel. Mas, como diz o cantor Peninha, “ter saudade até que é bom, é melhor que caminhar vazio”.

WALTER ARAÚJO COSTA 
advogado,escritor e jornalista.

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