Quando éramos jovens, tínhamos sonhos. Quando mais velhos,
refletimos sobre eles, uns realizados, outros não.
É bom acreditar nas convicções. Elas balizam o caminho. É
bom ter um ideal para sustentar as fragilidades. Ele ameniza as dificuldades e
ilumina os horizontes.
A compreensão de nosso mundo depende, basicamente, da forma
como vemos os outros, com seus defeitos, qualidades e fraquezas. É uma tarefa
difícil que nos obriga a descer do pedestal.
É bom atapetar o caminho com a humildade. Ela nos dá o prumo
do caminhar, o parâmetro entre a reflexão e o equilíbrio, permite diferençar o
outro de nós mesmos e entender a inutilidade da arrogância.
Em minha juventude, sonhos, convicções e ideais andavam
juntos. Mas, por vezes, a arrogância se fez presente, talvez por ser um
atributo daquela fase da vida. Contudo, construí amizades que suportavam meus
defeitos e compreendiam meu modo de ser. Como sou grato a todas elas!
Quando morei em Chorrochó, ainda jovem, tive a honra de
conviver com Maria Batista Rodrigues, que ainda não tinha Souza no nome.
Naquele tempo, já professora, ela trabalhava no único posto de saúde que
existia lá, o Posto Médico Francisco Pacheco. Ficamos amigos e o tempo permitiu
a continuidade da amizade até hoje.
Maria diluiu muitas das fragilidades que eu ostentava.
Ensinou-me a aparar as arestas de minha arrogância, compreendeu meus sonhos e
convicções e me fez ver a importância e seriedade dos estudos. Aprendi com ela
a definir o caminho em direção ao desconhecido. Caminho difícil, mas
necessário. Era preciso seguir adiante.
Há uma fase da vida que, ao caminhar, surge uma
encruzilhada. É nesse momento que, diante da indecisão, a opinião amiga faz-se
necessária. Em Chorrochó, comigo foi assim.
Anos mais tarde, Maria Batista esteve morando em São Paulo.
Visitei-a duas vezes, se tanto. Ambos deslocados do habitat natural, o sertão,
parece que a cidade grande nos empurrava de volta para nossas raízes. Eu
fiquei, Maria voltou, acertadamente. Foi acomodar suas emoções e sabedoria em
Patamuté. Casou, constituiu família bonita e exemplar e por lá está
enriquecendo o lugar com sua presença. A presença de Maria é um privilégio de
Patamuté, que às vezes o divide com Juazeiro e Curaçá.
Maria Batista é generosa, sábia, correta, humilde, sensata,
atenciosa com todos e prestativa demais com as pessoas que gosta. O convívio
que tive com ela me dá saudade, uma saudade persistente, itinerante,
inominável, cruel. Mas, como diz o cantor Peninha, “ter saudade até que é bom,
é melhor que caminhar vazio”.
WALTER ARAÚJO COSTA
advogado,escritor e jornalista.
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