Omar Dias Torres é das
bandas de Curaçá. Melhor dizendo, é curaçaense de boa cepa. Nasceu lá, filho de
família ilustre, cresceu nos becos curaçaenses, banhando-se nas águas do São
Francisco. O pai Durval Torres era do tempo que vergonha na cara e palavra empenhada
valiam mais que qualquer documento assinado. Um dos construtores da história do
município, as estradas empoeiradas da caatinga ainda guardam o eco de sua voz.
Era profundo conhecedor do sertão.
A façanha maior que Durval fez, dentre muitas,
foi constituir uma família numerosa: filhos intelectuais, políticos,
educadores, cantor, artista.
Todavia, hoje me ocupo de “Babá”, que há anos
vem escrevendo textos esparsos, sem nenhuma intenção de publicá-los, o que é
modéstia demais. Conheço alguns, tenho outros. O arquivo do homem é valioso,
escreve bem, tem raciocínio de valor apreciável e escrita escorreita e apurada.
Quem
cuida da cultura de Curaçá deve se preocupar com os escritos de “Babá”. Reunir,
publicar, torná-los conhecidos.
Aliás, Curaçá que é terra de escritores como
João Mattos, Elson Torres de Aquino, Esmeraldo Lopes, Maria Carlota de Possídio
Coelho, Herval Francisco Félix, Roberval Dias Torres, Urias de Souza Feitosa,
Maurízio Roberto Bim Moreira Fernandes e tantos outros de diferentes gerações,
deve incluir “Babá” neste rol de nossa intelligentziacuraçaense. Graça Aranha, autor de Canaã, não tinha nenhum livro escrito quando participou
da fundação da Academia Brasileira de Letras. Escreveu-os depois, o que
significa que uma coisa não exclui a outra. “Babá” é homem para enriquecer qualquer academia de letras,
em qualquer lugar.
Uma de suas qualidades é a humildade; outra, a
curiosidade enciclopédica que tem com as coisas do saber. Militou ou milita em
todas as frentes nas quais seja possível continuar sonhando com um Brasil
melhor para todos. Há anos mantém-se esperançoso e irrequieto. E ainda tem
tempo para escrever.
Em 1977, quando morava no Rio de Janeiro – e já
se vão, por aí, algumas décadas – “Babá” escreveu uma carta para o pai, em
versos, que deverá constar nos compêndios históricos de Curaçá, se é que ainda
não consta. E se consta, curvo-me diante de mais um deslize de minha
ignorância.
Os escritos de “Babá” têm cheiro de terra e
terra curaçaense. Quando longe de Curaçá, escreveu saudoso:
“Como volta a Asa Branca
Vou voltar também praí
Pois meu lugar, tenho certeza
É no sertão que nasci
Vivendo da esperança
De ver a chuva cair”
Dá gosto ler os escritos de “Babá”, sentir a
imaginação trilhar os caminhos que nos levam às nossas tradições e ao aconchego
de nossas raízes.
WALTER ARAÚJO COSTA
Curaçaense, advogado,escritor e jornalista.
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