Bahia, segunda
metade da década de 1970. Li pela primeira vez o poema abaixo, de Odair José,
num momento de solidão, fragilidade e dúvida.
Eu estava na
Fazenda Estreito, nas caatingas curaçaenses de Patamuté, divisa com Chorrochó e
o anotei num humilde caderno, companheiro e amigo naqueles dias difíceis.
Quadra de minha vida um tanto voltada para a introspecção. Quando a cidade não
me dava o amparo, procurava o aconchego de minha mãe na caatinga. E passava com
ela dias e dias adquirindo forças, balizando o horizonte, acomodando o
turbilhão de inseguranças e conversando com o silêncio.
Releio-o até
hoje. Às vezes, quando nos faltam os amigos, as palavras nos confortam e
servem de ombro para o derramar das lágrimas. Eu passava por isto, muitas vezes
passei por isto.
Ainda muito jovem
e cheio de sonhos, era muito difícil optar entre a humilde casa de taipa onde
nasci encravada naquele sertão seco do meu querido semi-árido nordestino e a
mudança para outro lugar desconhecido e distante, que me permitisse construir o
caminho para a realização de meus sonhos. Nunca esqueci esse momento de
reflexão em minha vida: a casa, que pedia pra ficar e a nova estrada, pedindo
para seguir. Certamente a melhor decisão era seguir o caminho, mas sem abdicar
das raízes. Lá estão as forças para o prosseguimento da caminhada, para o
afastar das pedras, para o soerguimento após os tropeços. Fiz assim, mas foi uma
barra, tem sido uma barra, porque a saudade quase sempre dilacera, cutuca,
atormenta.
Com o tempo fui
afastando as dúvidas e tapetando a estrada com a coragem possível e as decisões
necessárias, segurando as lágrimas e, às vezes, derramando-as, quando não dava
para segurar. Mas segui em frente. Se havia outro caminho melhor não sei, não
consegui enxergar, mas sei que não me arrependo do caminho que escolhi.
O poema de
Odair José é este:
“Apareceu uma nova
estrada e disse:
- Siga-me, pois eu
sou o seu futuro.
E minha casa, com
medo da solidão, me pede pra ficar, dizendo ser ela o meu passado.
E eu pensei,
pensei, pensei...
Pra que futuro,
pra que passado, quando na verdade ando perdido nos meus momentos presentes”.
Creio ser uma
forma de seguir adiante. Mas é inegável que o passado nos serve de sustentáculo
para consultar o presente e enfrentar o futuro. E como é difícil esse
equilíbrio!
WALTER ARAÚJO COSTA, curaçaense, é advogado,escritor e jornalista. Colaborador do Boletim Curaçá.
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