O lado mais flexível da regra que domina o
imaginário popular diz que todos os detentores de cargos eletivos são relapsos
e negligentes no trato com a coisa pública.
O lado ruim da regra é crudelíssimo: diz que todo
político é corrupto. Mas, entre um e outro lado, existe a exceção e esta diz,
felizmente, que há políticos sérios, honestos, corretos e incorruptíveis, o que
é verdade. Acredito na exceção.
Em Curaçá, a regra não é diferente, tampouco a
exceção. Curaçá tem seu povo e todo povo tem sua cultura. E a cultura sedimenta
o passado e segue em direção ao futuro para pavimentar a história.
Aqui o cenário é de 1996. Diante da apatia e mesmice
que persistiam nas administrações curaçaenses, surgiu Salvador Lopes Gonsalves,
audacioso e idealista, uma espécie de salvação do município. Até o seu nome,
por si só, anunciava a salvação. Salvador salva, não é? Então, Curaçá com ele
ficaria livre das supostas e costumeiras trampolinadas atribuídas aos prefeitos
anteriores. E o povo, com vontade de mudar, mudou: entronou Salvador por três
vezes como nosso alcaide e ficou aguardando a salvação, que nunca veio. Ou, se
veio, mudou de caminho, desviou-se, escafedeu-se.
Muito idealista, estudioso, inteligente e culto,
Salvador Lopes Gonsalves garimpou cultura em Curaçá, Juazeiro, Petrolina,
Senhor do Bonfim e São Paulo, onde se formou em Administração de Empresas na
conceituadíssima Pontifícia Universidade Católica (PUC). Mais tarde, freqüentou
a Universidade Regional do Cariri (URCA), lá nas terras do Padim
Cícero, talvez se abeberando nos ensinamentos do padre e de
onde saiu competentemente graduado em Direito. E fixou-se em Curaçá, afoito e seguro,
para disputar eleições. Ótimo estrategista, engendrou sua base de sustentação e
abocanhou o poder por alguns anos.
Por ocasião da primeira administração de Salvador,
escrevi, alhures, um artigo com o título República de Curaçá apontando
o acerto que a população alcançou ao alçá-lo ao cargo de prefeito. Ninguém
levou a sério as besteiras que escrevi. Hoje vejo que, com razão.
Todos sonhávamos em erigir Curaçá, colocá-lo nos
trilhos do desenvolvimento. E Salvador – pensava também este ingênuo
escrevinhador – era a pessoa certa naquela ocasião. Não era. Não chegou a ser.
E não foi por uma razão muito simples: os princípios que ostentava se
esfacelaram. Perambulou, errantemente, por partidos políticos, transitou de um extremo
ao outro do espectro partidário e se perdeu em meio ao labirinto ideológico. A
impressão que tenho é que Salvador abdicou de seus ideais de antanho, de sorte
que não teve mais esteio para sustentar-se diante de suas idéias de jovem.
Idéias que se esvoaçaram no tempo.
Em quadro assim, como defender nossos miseráveis?
Como juntar os cacos deixados por anos e anos de administrações fundadas nas
tradições e no elitismo municipais?
Agora, mais uma vez, leio que ainda há servidores
públicos de Curaçá com vencimentos atrasados por conta de supostas falhas na
última administração de Salvador. Ou seja, a exceção confirma a regra.
Salvador, que era exceção lá em 1996, hoje despencou na vala comum de todos os
administrados públicos. O imaginário popular é sábio.
WALTER ARAÚJO COSTA
advogado,escritor e jornalista.
Política é como o show business: você tem uma estréia fantástica, desliza por algum tempo e acaba num inferno.
ResponderExcluirMas tudo depende do astro...
E Salvador viu sua estrela se apagar.