A presença de uma fonte de água numa comunidade rural do sertão pode fazer toda a diferença. Essa água pode ser de superfície, armazenada da chuva em cisternas e tanques, ou pode ser ainda uma fonte de água subterrânea, extraída de poços e cacimbas perfuradas em determinadas regiões do Semiárido que ofereça essa condição. Essas fontes servem para o consumo das famílias, para molhar a plantação ou para matar a sede dos animais, contribuindo assim, com a permanência do povo em sua terra.
A comunidade de Barriguda, interior de Curaçá, reconhece bem a importância de um poço comunitário, cuja água é puxada através de uma Bomba D’água Popular (BAP), um equipamento leve e simples cuja tecnologia é divulgada pelo Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), executado na região pela Articulação do Semiárido.
Em Barriguda, essa fonte de água tem uma enorme utilidade: serve para o consumo humano, consumo animal e ainda irriga uma pequena plantação.
A moradora mais antiga de Barriguda é a Dona Josefa Martinho da Silva, mãe de seis filhos e avó de cinco netos. Criadora de cabras, ovelhas e galinhas, dona Josefa lembra que há dois anos ninguém planta nada na comunidade devido à seca prolongada, mas os animais, mesmo nesse período, asseguram o sustento de todas as famílias de Barriguda e das comunidades vizinhas, que também usam a água do poço para tomar banho e lavar roupas. Um dos filhos de Josefa, Givaldo da Silva Inácio, esposo de Antônia Marta, reforça o que diz sua mãe: “Se a gente fosse viver só da roça, aqui com essa seca, nós” tava” numa situação muito difícil. Nossa sorte é a criação”, afirma o agricultor ao lembrar que os animais, principal fonte de renda das famílias, só estão dando produção graças a água do poço puxada pela bomba. A BAP chegou na comunidade em 2010 através de um programa de abastecimento do governo do Estado, no momento em que as famílias da região enfrentavam grande dificuldades para ter acesso a esta água. Dona Josefa conta que antes da bomba, a água era e puxada por uma sonda improvisada amarrada a uma corda e que a quantidade de água extraída era insuficiente para pessoas e para os animais. Com o passar tempo, o poço recebeu um cata-vento doado à comunidade, o que também não resolveu o problema porque este apresentava defeitos e precisava de muita manutenção. Com esses problemas o poço ficava subutilizado, apesar de possuir uma vazão de mais de 2 mil litros por hora, o suficiente para atender a mais de 4 mil cabeças de cabras, bois, jumentos e cavalos.
Ao falar da importância dos animais, Gilvaldo lembra que todas as famílias da região vivem em pequenas propriedades e precisam usar a caatinga como fonte de alimento. Para isso, os criadores utilizam muito as áreas livres de fundo de pasto, onde não existem cercas e os animais pastam diariamente. Nessas áreas, as famílias não derrubam a vegetação, não fazem queimadas, nem permitem a caça predatória, para que a caatinga continue fornecendo alimento e renda para todos que, assim como a família de Givaldo, mantém um criatório sempre produtivo especialmente nesse período de estiagem quando os roçados de milho e feijão não conseguem produzir nada. “ Com as criações, nós aqui temos carne, leite, pele e, quando é preciso, a gente abate alguma animal pra vender no açougue e gerar algum trocado”, lembra Givaldo, detalhando os resultados que os animais oferecem para as famílias de criadoras do sertão.
Apesar de toda a importância que tem o criatório para essas famílias, é preciso observar que sem as fontes de alimentação, provenientes da caatinga e sem a água do poço puxada através da bomba, as famílias de Barriguda e região não tinham outra alternativa de sobrevivência nesse momento de estiagem.
Outro importante benefício proporcionado pela bomba na comunidade está no cultivo dos canteiros de coentro, alface e cenoura existentes próximos do poço. No local, Givaldo e a esposa plantam ainda um pouco de milho, sorgo e bastante capim para a criação. A família diz com satisfação que graças a essa diversidade de cultivo, que por sinal é partilhada por todos da localidade, as famílias também usufruem de uma alimentação bem variada e nutritiva. No geral, é fácil perceber quantos benefícios podem ser gerados numa comunidade rural que reconhece sua vocação econômica através do criatório de animais e que precisava somente de um incentivo, como uma bomba d’água, para incrementar esta atividade. Com isso a comunidade gera mais possibilidades e alternativas capazes de fixar o povo em sua terra proporcionando-lhe um modo de vida mais fácil e com mais dignidade.
Por Raimundo Fábio
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