CURAÇÁ, SEUS CANDIDATOS E OS PLANOS DE GOVERNO

Talvez a maior dificuldade de qualquer candidato a prefeito seja concatenar as ideias no sentido de planejar, expressar e formatar o seu plano de governo. Por isto, vale-se geralmente de assessores, quase sempre muito teóricos e divorciados da realidade municipal. O resultado é uma proposta de governo artificial, mirabolante e impraticável. Os candidatos de Curaçá não são diferentes.

O programa de governo do candidato Carlos Luiz Brandão Leite, um neófito em administração pública, peca pelo excesso de generalidades. A impressão que se tem é que se trata de um estatuto partidário. Chega ao extremo de assegurar o óbvio: “respeito às instituições públicas e privadas, às leis e à Constituição”. Primeiro, isto não é plano de governo, está mais para um juramento de posse; segundo, o mínimo que o munícipe espera de uma administração é o respeito às leis e às instituições. Isto é elementar. Desnecessário incluir como meta num plano de governo. E ainda fala num certo “fortalecimento político e jurídico-institucional do município de Curaçá”. Alguém se esqueceu de avisar à assessoria do candidato que isto decorre e é intrínseco da própria entidade municipal, enquanto ente político e juridicamente constituído. Como tal, escapa a qualquer proposta de governo.

No que concerne ao plano de governo do candidato Pedro Alves de Oliveira, parece razoável afirmar que é mais específico, talvez porque, sendo vereador, está mais adstrito às questões municipais. Entrementes, também se esqueceram de avisar à assessoria do candidato que é dificílimo, segundo a estrutura de nossas leis tributárias, “aumento de arrecadação, sem aumento de impostos”, como ele promete.  O município de Curaçá não suporta esse tipo de diletantismo.

Relativamente ao plano de governo do candidato Salvador Lopes Gonsalves é um amontoado de intenções, muitas delas deixadas de lado em suas administrações anteriores. E inclui um lamento, incompatível com qualquer plano de governo: “certas escolhas políticas acabaram gerando um grande endividamento para o nosso município”. E diz que, “só uma gestão pública qualificada, honesta e comprometida com a cidade poderá continuar dando resposta aos desafios atuais e futuros para o nosso povo” o que, de resto, é uma obviedade.

Contudo, ações resultantes de planos de governo são como alma penada, todo mundo diz que existe, mas ninguém vê. Propostas de governo são papéis, nada mais do que isto. E papel aceita tudo, até mesmo esta minha opinião que certamente os três candidatos discordam.

E se é assim, falemos então dos candidatos: Carlos Luiz Brandão Leite, descendente de respeitável e tradicional família de Patamuté, tem boa origem e linhagem, tanto do lado paterno, quanto da estirpe materna. Filho de mãe professora, que muito entendia de educação, traz em seu favor a irrepreensibilidade do caráter e a honradez familiar; Pedro Alves de Oliveira, sobejamente conhecido dos curaçaenses, vereador com uma razoável folha de serviços prestados ao município, é uma boa contribuição democrática para Curaçá; por último, Salvador Lopes Gonsalves. Conta a seu favor, uma sofrível experiência em administração pública. Sempre foi um sonhador, mas parece que se ajustou bem ao entendimento de Sérgio Granja, segundo o qual “a gente gasta a juventude na ilusão de transformar o mundo, mas quando se dá conta já não sobra tempo para se adaptar a ele”. Parece que ele não se adaptou ao Curaçá que tanto sonhou governar. Escrevi em meu livro “Dorotheu: caminhos, lutas e esperanças”, lançado em 2001:político experiente, Salvador é capaz de convencer até que cobra usa suspensório. Talvez por isto, tenha se sustentado tanto politicamente e relute em largar a rapadura da administração de Curaçá.  

Mas o que vale nisto tudo é a disputa entre os candidatos nas urnas de outubro. Democraticamente. Civilizadamente. A população de Curaçá certamente saberá escolher o seu prefeito para o próximo quatriênio.

WALTER ARAÚJO COSTA 

Advogado,escritor e jornalista.