Há algum tempo em Curaçá, nas vésperas
de política, de campanhas, circulava um tal de Janjão, um jornalzinho, um
folhetim, criado para se alardear um fato, denunciar o comportamento de um político
ou “figurão” que se beneficiava das tetas da velha prefeitura, ou, como alguns
a apelidam, da velha viúva.
Os tempos passaram, a tecnologia
avançou. O folhetim, que por vezes foi escrito a mão, também avançou. Agora,
não é mais escrito por grupos em pequenas salas, que faziam acordos, juras de
guardarem segredos do anonimato, como se fossem uma quadrilha de assaltantes,
fidelidade eterna, ou até que um dos autores decidisse apoiar outro grupo político.
Como disse, em tempos de redes
sociais até os velhos Janjãos se atualizaram. Ô Facebook pra ter Janjão, agora
chamados fakes, né! Se antes, para se ter um janjão circulando nas ruas precisava um grupo de no mínimo três (um para
escrever ou datilografar, outro que ajudava nas rimas e os informantes), com
recursos escassos, hoje apenas um simples usuário com um celular não muito caro
consegue divulgar o que pensa, o que quer que os outros pensem, escondido no
anonimato. O indivíduo cria um perfil
falso, convida umas cinqüenta pessoas, que aceitam como amigo sem nunca lhe ter
visto, para dar aquele ar de credibilidade,
ou cria uma página e adiciona centenas de pessoas. Dada a curiosidade
das informações do que se passa nos bastidores do meio político, do que,
outrora, era escondido do povão, não se pode negar a aceitação da população. Uns
curtem, outros comentam, e tem aqueles que até compartilham.
Ler alguns dos textos chega a ser
uma luta. Coesão, coerência e todas as regras gramaticais muitas vezes são
deixadas para trás, nem ao menos um esforço para acertá-las como acontecia no
velho janjão. Mas esse não parece ser o problema. Mesmo assim o povo lê,
comenta nas esquinas os personagens que escrevem, ou ao menos fingem que
escrevem, pois tem uns que, aparentemente, bem aparentemente, emprestam suas
contas, não sei em troca de quê, já que estão sujeitos a, no mínimo, um
processo judicial.
O grande problema, na minha
opinião, acontece quando se levanta uma informação falsa, uma atribuição falsa,
um episódio que envolva a vida de quem não participa deste universo político.
Ou, quando o autor do texto acusador é apontado erroneamente.
E neste sentido, o mais
preocupante, é a aceitação da informação. Saber que o povo guarda uma repugnância
a políticos é quase normal, afinal, muitos deles plantam esse sentimento na
população. Mas um rancor, um sentimento ruim em relação ao próximo, sem ao
menos ter a comprovação da veracidade da informação passada é muito lamentável.
Mostra que a nossa gente precisa evoluir.
Elias Fonseca
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