Ao apagar das
luzes de 2009 um livro despontou no cenário da imprensa regional
sanfranciscana, trazendo fortes sinais de livre trânsito no meio acadêmico
nacional. Trata-se da História da Imprensa de Curaçá, de
autoria do jornalista Maurízio Roberto Bim Moreira Fernandes.
O
livro é um apanhado cuidadoso de fatos adstritos à incipiente imprensa do
município de Curaçá, no sertão da Bahia, a partir de 1950. E o melhor: traz uma
análise criteriosa do período. Baseia-se em pesquisa fundamentada “na
diversidade das memórias dos sujeitos que um dia desafiaram produzir imprensa
no interior do Estado da Bahia”, como acertadamente diz, no prefácio, a
jornalista Adréa Cristina Santos, professora da Universidade do Estado da
Bahia, Campus de Juazeiro.
De
fato, um desafio. Tanto para aqueles que se arriscaram, não obstante os
percalços, inclusive políticos, no sentido de edificar a imprensa curaçaense da
época, valendo-se dos tenros meios de que dispunham - e eram pouquíssimos -
quanto para o autor do livro que, arrostando sacrifícios, procurou reconstruir,
com impressionante fidelidade, a memória daquele tempo concernentemente ao
assunto.
E,
constataram, todos: Curaçá teve imprensa, sim. E hoje também, com mais
robustez. A de agora, mais dinâmica, mais abrangente e conectada com o
mundo. Aqueloutra, mais localizada e reivindicativa.
O
mérito que se vislumbra no livro, dentre outros subliminares, é a preocupação
do autor com a busca da verdade histórica, embora difícil de obtê-la, tendo em
vista a ausência de documentos e registros disponíveis. Contudo, o “sentido de
ser curaçaense”, como frisou o autor, deu-lhe sustentáculo para a tarefa.
As
elites tendem a produzir seus intelectuais. E os tem aos montes. Todavia,
quando, ao contrário, eles surgem, isoladamente, da vontade de mudar as
estruturas sociais e, sobretudo, da evidência do saber do povo, merecem uma
atenção mais acurada. Assim, Maurízio Bim.
Intelectual
preocupado, diuturnamente, com as questões sociais do seu tempo, ainda assim
teve esmero para produzir um trabalho sério, retrato de um minucioso olhar
sobre o passado curaçaense.
Dir-se-ia ser
esta uma forma de despertar Curaçá para o conhecimento de suas raízes, das
tradições e do viver de seus antepassados, não fosse o intuito acadêmico do
trabalho. Isto prova que atividade intelectual coaduna-se, eficazmente, com
interesse político e vice-versa.
Assim
como o sergipano Tobias Barreto dizia que “as tradições são o passado que se
faz presente e tem a virtude de se fazer futuro”, ouso sugerir que a História
da Imprensa de Curaçá é a ponte entre as idéias do período pesquisado
e a necessidade de firmar o idealismo das novas gerações do município.
Filho
da professora Dionária Ana Bim, ex-aluna do tradicional Instituto Central de
Educação Isaías Alves-ICEIA, de Salvador, Maurízio recebeu da mãe o gosto pelas
coisas sérias, a arte de dirigir o espírito para a investigação da verdade e,
sobretudo, o caráter irrepreensível. Mais: Maurízio carrega a solidez da
raiz paterna e o respeito proveniente do esteio familiar, como um todo. Isto
lhe acrescenta uma retaguarda moral admirável, exemplo para seus admiradores,
entre os quais me incluo.
O livro é, talvez, uma das mais
promissoras fagulhas que Curaçá passou a dispor para o enriquecimento de sua
história. Leitura agradável, enriquecedora, formidável.
Agora, no próximo dia 06 de novembro de 2015, Maurízio faz mais uma façanha: o
lançamento de outro livro, “Barro Vermelho - memória e espaço”. Trata-se de uma
obra cuidadosamente baseada em pesquisas sobre o elegante distrito curaçaense,
sua gente, suas raízes e sua cultura. É sintomático que o evento aconteça no
Memorial Filemon Gonçalves, marco da cultura musical e da história de Barro
Vermelho.
Curaçá certamente está enriquecendo a sua história.
Por Walter Araújo Costa - publicado em seu blog pessoal.
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