O escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, que
todo jovem deveria ler, deixou imorredouras lições em seus escritos, que servem
para atapetar nosso caminho para a distância.
A juventude é a quadra da vida que nos
permite construir os sonhos, cravar no âmago de nosso ser as perspectivas,
divisar os horizontes e até, em certos momentos, acreditar nos devaneios.
“É bom ter tido um amigo, mesmo se a
gente vai morrer”, esta uma das lições de Exupéry. Os amigos são essenciais em
todos os momentos da vida. Quase sempre são eles que nos apontam o norte, o
rumo, o caminho possível.
Passei uma quadra de minha vida em
Patamuté, distrito do município baiano de Curaçá. Lá aprendi muito,
principalmente na convivência com os amigos. Tempos difíceis, mas fundamentais como
escola de vida. O que tínhamos de melhor para enfrentar as dificuldades da
época eram as amizades.
Neste contexto, convivi com João
Brandão Leite, um amigo na acepção irretocável da palavra. Privar de sua
amizade era ter uma retaguarda, um abrigo intransponível. João Brandão tinha
uma qualidade própria dos grandes homens, a humildade. E completava-se com
outros atributos que o tornavam admirável por todos. Era generoso, nobre,
magnânimo, justo, companheiro. Sobrava-lhe generosidade. Faltavam-lhe defeitos
e imperfeições.
Sempre é possível e muito saudável
falar dos amigos. Mas não é sempre possível fazê-lo com a isenção necessária,
mormente quando alguns desses amigos nos foram de fundamental importância em
nossa vida. É por isto que me vem a lembrança de sua convivência, certamente
impregnada de gratidão por tudo que João Brandão Leite representou
em minha vida. Deu-me incentivo, ajudou-me em alguns momentos de fragilidade e,
sobretudo, permitiu que sua amizade se fizesse presente quando, ainda jovem, eu
muito dela precisava. Sua maneira de cumprimentar trazia o aconchego, a
segurança da amizade: “Como vai, amigo velho”?
Entendo que a contribuição maior que um
pai de família deixa para seus filhos é a formação do caráter.João Brandão
Leite, embora arrostando as dificuldades naturais do lugar, educou
exemplarmente seus filhos, dando-lhes os atributos necessários para a vida,
dentre esses a conduta admirável, a seriedade e o apegar às virtudes. E ainda
dedicou grande parte de sua vida à política partidária. Elegeu-se vereador à
Câmara Municipal de Curaçá e, nesta condição, foi um baluarte em defesa de
Patamuté e de sua gente.
Comecei citando Antoine de
Saint-Exupéry. E termino este modesto texto com mais um de seus ensinamentos,
em homenagem a este grande amigo João Brandão Leite: “Aqueles
que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si,
levam um pouco de nós”.
WALTER ARAÚJO COSTA
advogado,escritor e jornalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário