Nossos jovens lembram os acontecimentos de apenas dias e meses, um tempo muito próximo, porque ainda estão no alvorecer da vida. Os mais velhos, de outras gerações, lembram o passado mais distante, as raízes de onde vieram e amigos, mesmo os que já se foram.
Todo dia se faz presente a saudade de meu querido Patamuté, lá no sertão da Bahia. Corrói, cutuca, fustiga e, por isto, registro aqui uma lembrança. Era começo da década de 1970. Zé de Devéquio, conterrâneo e amigo, jovem batalhador, esteve em São Paulo e retornou a Patamuté com uma vitrola movida a pilha e alguns discos. Era uma novidade. Lá não se podia comprar, porque, jovens ainda, éramos todos muito pobres.
Em Patamuté, não existia energia elétrica. Lembro as músicas que ele tocava num Long Play (LP), hoje conhecido como vinil: “A palavra adeus”, de Roberto Carlos, que a fama ainda não lhe havia batido à porta como hoje e “Vai ser assim”, de Martinha, também no começo da carreira. Ambos eram egressos do movimento da Jovem Guarda.
Com essa vitrola fazíamos serenata, depois que a luz do motor que iluminava Patamuté se apagava. Nunca mais vi Zé de Devéquio, bom sujeito, rapaz decente, irmão de Pastoura, também amiga, que era casada com um dos melhores amigos que tive em minha vida: Israel Henrique de Souza. Israel era espirituoso, prestativo, solidário, atencioso. Um homem de grande caráter, filho de família tradicional e orgulho dos filhos de lá.
Devéquio era um senhor miúdo, simples, educado, conversa mansa. Usava um chapéu, que era seu companheiro inseparável até nas horas de bate-papo nas calçadas de Patamuté. Foi bom conviver com toda essa gente.
Falar sobre tudo isto é uma imposição da saudade. Era nesse ambiente interiorano, sem drogas e sem violência, que construíamos as primeiras amizades. Muitas delas perduram até hoje, firmes e sinceras.
WALTER ARAÚJO COSTA
advogado,escritor e jornalista.
Walter Araújo, foi um um grande prazer ter visitado esse blog pela seguinte leitura:
ResponderExcluirEm novembro de 1896, depois do confronto em Uauá entre a 1ª Expedição contra Canudos, comandada pelo tenente Pires Ferreira e os combatentes do Antonio Conselheiro, o vaqueiro Domingos Vitor de Jesus, da Fazenda São José no município de Uuuá foi ver "de vista" os estragos deixados pela tropa, inclusive cadáveres. Por isso ele escreveu a Cícero Dantas Martins - Barão de Jeremoabo, relatando os fatos.
No final da missiva, escreve o vaqueiro: "Eu vou deitar esta carta na mala de Patamuté".
Esse texto encontra-se na obra Canudos: cartas para o, barão, da autoria de Conuelo Novais Sampaio.
José Plínio de Oliveira
Walter boa tarde!
ResponderExcluirSaberia me dizer se seu amigo Israel Henrique de Souza é parente de Pedro Henrique de Souza que foi casado com Laura Ferreira de Souza?
Obrigado