19 de mar. de 2013

DE OLHO EM REELEIÇÃO, DILMA SOBE EM PALANQUE


Desde que assumiu a Presidência da República,em 2011, Dilma Rousseff nunca escondeu que seu principal conselheiro é o antecessor no cargo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde janeiro, entretanto, não são apenas conselhos sobre juros, inflação e trocas no ministério que Dilma tem ouvido constantemente do padrinho político. Para Lula, que nunca se preocupou em seguir à risca a legislação sobre campanha eleitoral antecipada, o jogo de forças pela reeleição já começou. E o horizonte das eleições provocou mudanças nas atitudes da presidente.
Na última quarta-feira, após uma cerimônia no Palácio do Planalto, Dilma fugiu ao próprio costume e permaneceu, ao fim de um evento, por mais de 20 minutos posando para fotografias ao lado de mulheres que haviam sido convidadas para o ato, um anúncio de medidas para combater a violência doméstica. As imagens foram feitas pelo fotógrafo oficial da Presidência da República. Ao atender as mulheres em fila, Dilma também ouvia, pacientemente, o que cada uma queria dizer. Antes disso, durante o evento, a plateia entoou três vezes o coro "Olê, olê, olê, olá; Dilma, Dilma".
Além dos eventos no Palácio do Planalto - somente na semana passada foram três -, Dilma intensificou a agenda de viagens pelo país. No interior de Alagoas, a presidente inaugurou na terça-feira um trecho do Canal do Sertão ao lado dos senadores Renan Calheiros (PMDB) e Fernando Collor (PTB).
Outra mudança pode ser facilmente constatada: a presidente tem falado cada vez mais. Os dois discursos mais longos do mandato de Dilma ocorreram em 2013: em 28 de janeiro, ela falou por 52 minutos e 42 segundos no Encontro dos Prefeitos, em Brasília. Em 5 de março, em um evento com trabalhadores rurais, a presidente bateu a própria marca: uma hora, dois minutos e 39 segundos de discurso. Aos poucos, os pronunciamentos da chefe do Executivo, famosos pelo estilo técnico, também mudaram, com a inclusão de elogios em série à gestão dos principais programas do governo.
A comparação com os anos anteriores é outro parâmetro revelador: em fevereiro de 2011, Dilma gastou duas horas e 21 minutos em discursos. Em fevereiro de 2012, foram duas horas e nove minutos. Em fevereiro de 2013: quatro horas e treze minutos. Praticamente o dobro.
Críticas - Além de autoelogios, os pronunciamentos também ganharam tom mais ácido contra adversários políticos. Foi assim no anúncio da redução na tarifa da conta de luz, em janeiro, quando adotou discurso de candidata: “Aqueles que foram sempre do contra estão ficando para trás”, disse ela, fiel ao estilo do antecessor, um especialista do discurso político "do nós contra eles". A postura de Dilma gerou críticas na oposição. Imediatamente, o ex-presidente Lula saiu em socorro da presidente, e os tucanos retomaram a carga. Pronto: estava inaugurado o debate eleitoral de 2014.
Dilma também preparou o terreno para utilizar um dos seus trunfos eleitorais: o discurso de que a miséria foi erradicada em seu governo. Em fevereiro, ela anunciou uma manobra estatística para extinguir a miséria no Brasil. Se os planos do governo funcionarem, ninguém receberá menos de 70 reais per capita por mês em 2014. Se os planos não funcionarem, a massiva propaganda oficial, desde já em funcionamento, pode suprir a lacuna.
Os pronunciamentos na TV, como o que gerou a reação dos oposicionistas, também são uma arma para Dilma assegurar sua popularidade. No último deles, para marcar o Dia da Mulher, ela anunciou o corte dos impostos dos produtos da cesta básica - a mesma medida que, no fim de 2012, o Congresso aprovou e ela vetou.
O trabalho na imagem da presidente - que incluiu mudança no penteado - é só parte do projeto para 2014, conduzido pelo marqueteiro João Santana. Outra parte do planejamento é política: passa pela acomodação de aliados importantes em ministérios e na garantia de palanques estaduais fortes. Dilma aceitou, por exemplo, que Carlos Lupi, defenestrado do seu ministério por denúncias de corrupção, indicasse o novo ministro do Trabalho - o pedetista Manoel Dias. E o perfil de gerente e técnica vai perdendo cada vez mais espaço para a candidata à reeleição pelo PT no próximo ano. (Veja)

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